terça-feira, 11 de junho de 2019

Menina que via Filmes: Casal Improvável [Crítica]


Título Original: Long Shot 
Título no Brasil : Casal Improvável
Roteiro: Dan Sterling, Liz Hannah.
Direção: Jonathan Levine
Gênero: Comédia
Elenco: Charlize Theron, Seth Rogen, O`Shea Jackson Jr, Andy Serkis, June Diane Raphael, Bob Odenkirk, Alexander Skarsgård, Ravi Patel, Lisa Kudrow.
Distribuidora: Paris Filmes
Data de lançamento no Brasil: 20 de junho de 2019
por Larissa Rumiantzeff

Casal Improvável diverte sem ofender

Ao ver o trailer de Casal improvável, com Seth Rogen e Charlize Theron, imaginei que fosse mais uma comédia escrachada, com um toque de ação. Mas eu fui fisgada pelo cliché. Acontece que eu tenho um fraco pelo velho cliché do flashback, um casal que se reencontra depois de anos e acaba se envolvendo. Além disso, Charlize vende absolutamente qualquer filme em que atue. 
Em "Casal improvável", somos apresentados a Charlotte Field uma possível candidata à presidência dos Estados Unidos. Em uma festa para promover sua imagem, Charlotte reencontra Fred Flarsky, seu antigo vizinho que hoje é um jornalista e crítico mordaz em um site de notícias. Ele, por sua vez, reconhece nela a antiga babá, e sua primeira paixão da adolescência. Flarsky acabou de perder o emprego e, diante da necessidade de discursos bem humorados para alavancar sua campanha, Charlotte se dá conta de que ele escreve bem e o emprega como seu redator de discursos. Com o tempo, os dois se envolvem, é claro. 

Hollywood adora usar a velha fórmula do presidente/candidato à presidência, com alguém de uma classe socioeconômica e cultura drasticamente diferente com visões opostas de mundo.
Temos vários exemplos de contrastes de propósitos em filmes. Em “Encontro de Amor”, por exemplo, J.Lo faz uma camareira de hotel que se envolve com um candidato ao senado dos Estados Unidos. Em “Amor à segunda vista” Sandra Bullock e Hugh Grant se veem em lados opostos de uma disputa. Nesse sentido, Casal improvável cai no esperado. 
Além disso, Seth Rogen em um filme de comédia geralmente é um alerta de humor escatológico. E alguém precisa parar de escalá-lo apenas para papéis de drogado loser com cara de sujo. Sério. Temos aqui um cara com potencial, mas que em cada filme interpreta uma versão ligeiramente diferente do mesmo papel. 
A diferença é que Casal improvável trabalha o roteiro e os personagens de forma que, apesar de terem conflitos, sejam simpáticos e promovam uma identificação com o público. Você torce pelo casal principal. Você entende as concessões que Charlotte precisa fazer para se estabelecer em um mundo onde é a exceção. Flarsky aqui é a voz do privilégio do homem que não tem noção de quando uma festa só tem gente branca, ou dos sacrifícios que uma mulher precisa fazer para se impor na política, ou em qualquer meio dominado por homens. 

Eu diria que o diferencial aqui foi o roteiro e a direção. Esta comédia tinha tudo para ser mais um besteirol estilo Judd Apatow. Até tem seus momentos desnecessários. Mas, no geral, é divertida e relevante. 
Charlize Theron, provou, mais uma vez, que consegue fazer absolutamente qualquer papel, e que, em "Advogado com o diabo" deve ter pago um honorário extra, porque simplesmente não envelhece. A impressão que dá é que ela está se divertindo nesse filme, e o resultado é que o espectador também se diverte. Charlize veste a camisa do “wtf” com maestria, e nos convence. 
E, por incrível que pareça, Seth Rogen me abalou. Fred Flarsky é submetido a uma transformação gradual, física e psicológica, causada pelo fato de se estar trabalhando para a candidata a presidente dos EUA, e não por uma única cena de compras. Ao longo do filme, ele vai ficando limpinho, mais sensato e quase interessante. Aqui, ele apresenta até um certo charme. Porque uma coisa é diferença econômica. Outra coisa é um abismo cultural. Ao longo do filme, e por conta do clichê dos velhos amigos, somos manipulados e convencidos da compatibilidade do casal. Novamente, em vez de um homem deixando a mulher de negócios menos tensa, ambos são transformados pelo outro. Ambos personagens têm certa razão ao puxar o outro para a realidade. A química é real. 
Casal improvável é relevante. Temos um debate e uma crítica à onda de misoginia no mundo todo. Temos uma cena em que os âncoras de um telejornal propõem que homens notadamente misóginos avaliem a possibilidade e a viabilidade de uma mulher em um cargo político. 
O dilema que os personagens enfrentam são verossímeis. É difícil não se identificar com a fala de Charlotte quando ela diz que não pode parecer assertiva, nem emotiva, e ai dela se um companheiro vacilar, porque será ela quem paga o pato. O dilema é real demais, e a resolução, muito fácil. Acredito inclusive que, se não fosse uma comédia romântica, o final teria sido diferente. 
“Casal Improvável” é um filme relevante quando postula questões pertinentes a problemas atuais, em vez de ironizá-las. Temos atualmente, na vida real uma celebridade em meio a um escândalo midiático, no outro lado da moeda, ilustrando bem a fala de Charlotte. Independentemente de quem vacile, é a mulher que é vista como instável e emotiva. 
Já falei de Charlize Theron, de Seth Rogen, mas todo o elenco de apoio merece palmas. 
Fazer comédia é tomar partido. Diga-me de quem ri, e te direi quem és. Quando você opta por criticar o machismo estrutural em empregos, na mídia, por meio da comédia, você mostra claramente o seu lado, e isso fica bem claro aqui. Você ri da opressão, e não do oprimido. O machismo é o grande vilão do filme. Eu gostei. Me senti representada. E aí vi que uma mulher assinou o roteiro, e entendi o porquê.   
Ri em vários momentos do filme. A história é fofinha. E apesar de um ou outro momento de humor mais nojento, garanto que é um dos mais leves do Seth, e realmente divertido. Recomendo. 


Cabine de imprensa à convite da distribuidora
*Nossos colunistas são voluntários, os textos assinados por eles são originais de suas autorias.


5 comentários:

  1. Estava olhando este lançamento esta semana e não vejo a hora de conferir.
    Não há como negar que realmente Charlize acaba vendendo tudo que se propõe a fazer e parece transformar tudo em ouro também, por mais bobinho que seja o roteiro.
    Gosto muito do trabalho do Seth, que já tem essa veia cômica aguçada!!!
    Verei com certeza.
    Beijo

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  2. Eu vi o trailer e fiquei bem interessada em assistir, com a critica fiquei com mais vontade ainda :)

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  3. Ok, não gosto muito dos filmes com o Seth Rogen, o humor dos filmes dele nunca me agrada. Mas, como esse você diz que é diferente, vou tentar assistir. Quem sabe comece a ir com a cara desse ator. A Charlize é sensacional em qualquer papel que faça.

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  4. Olá! Admiro muito a Charlize Theron, acho ela maravilhosa e é por causa dela que eu já queria assistir o filme. Fico feliz em saber que esse filme não é mais um besteirol, já que estou fugindo desse tipo de filme. Faz tempo que não assisto uma comédia que valesse a pena ser assistida e que prendesse a minha atenção de verdade, então espero gostar de Casal Improvável, que pelo que tudo indica tem tudo para me agradar. Obrigada pela indicação! Beijos!

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  5. Oiii ❤ Quero só ver no que vai dar essa história de Fred escrever discursos para a campanha de Charlotte. Espero que ele possa ver o quanto o mundo é machistas com as mulheres e com Charlotte que inspira a um cargo na política, onde mulheres são minoria.
    É de bater palmas um filme de comédia fazer uma crítica tão boa sobre o machismo, adorei isso. Bom saber que o filme é bom e não mais um comédia irrelevante e cheia de piadinhas sem graça.
    Com certeza, irei assistir ❤

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