Detetive Chinatown: O Mistério de 1900

 

Título Original: Tang ren jie tan an

Título no Brasil: Detetive Chinatown: O Mistério de 1900

Ano: 2025 

País: China 

Direção: Chen Sicheng, Mo Dai

Roteiro: Chen Sicheng  

Elenco: Wang Baoqiang, Liu Haoran, Chow Yun-Fat

Nota: 3,5/5.0

Por Amanda Gomes 

Conhecida como uma das franquias chinesas mais bem-sucedidas da atualidade, Detetive Chinatown chega oficialmente ao Brasil com seu quarto filme, e escolhe fazer isso de maneira ousada: com um prelúdio ambientado na São Francisco de 1900. A troca das metrópoles contemporâneas por uma atmosfera histórica é uma guinada arriscada, mas que oferece um pano de fundo instigante para explorar temas como xenofobia, imigração e identidade cultural.

O novo longa não apenas mergulha na origem dos personagens, como também eleva a franquia visualmente. A reconstituição da Chinatown de época impressiona em seus mínimos detalhes – das lanternas vermelhas aos trajes tradicionais –, criando um cenário imersivo digno de produções hollywoodianas de primeira linha.

A trama acompanha Qin Fu, um jovem médico tradicional chinês com talentos dedutivos à la Sherlock Holmes. Convidado por Bai Xuanling, líder da comunidade chinesa, ele investiga o assassinato da filha de um congressista americano. Ao seu lado está Ah Gui, personagem carismático e espirituoso com ascendência indígena e chinesa. Juntos, formam uma dupla improvável e magnética, que transita entre o humor e o drama enquanto se vê cercada por conspirações políticas e sociais.

Mesmo com esse bom ponto de partida e atuações cativantes, o filme sofre com o excesso. São muitas tramas, subtramas e personagens, que nem sempre se integram de forma orgânica. O roteiro tenta abraçar demais – desde críticas sociais contundentes até homenagens a figuras históricas e ícones da literatura policial –, o que acaba diluindo o impacto do mistério central. Há momentos em que o filme parece mais preocupado em amarrar pontas soltas ou entregar viradas dramáticas do que em desenvolver seus personagens com profundidade.

Ainda assim, há muito mérito em como O Mistério de 1900 evoca questões atemporais. A crítica à Lei de Exclusão Chinesa e à violência estrutural contra imigrantes ganha ecos contemporâneos – seja em diálogos explícitos ou em referências visuais, como o bonde com os dizeres “Make America Great Again”. A mensagem é clara: os fantasmas do passado ainda assombram o presente.

No fim das contas, Detetive Chinatown: O Mistério de 1900 é um filme que, apesar de imperfeito e por vezes desequilibrado, tem coração, ambição e uma estética arrebatadora. Funciona tanto como entretenimento quanto como crítica social, e ainda serve como porta de entrada acessível para novos espectadores, já que não exige conhecimento prévio da franquia.

Se você curte mistérios à la Poirot ou Sherlock Holmes, e tem saudade dos filmes de ação oriental que marcaram a Sessão Kickboxer da Band, esta pode ser uma experiência surpreendentemente divertida – mesmo que em alguns momentos, perca o rumo.

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