quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Menina que via Filmes: Holocausto Brasileiro [Festival do Rio]

Hoje aconteceu algo bem especial. Fui à cabine de imprensa do documentário em cartaz no Festival do Rio, chamado Holocausto Brasileiro, baseado no livro lançado pela editora Geração da autora e também roteirista do filme Daniela Arbex. Apesar de ser um lançamento da HBO América Latina o espaço para imprensa foi na Paramount Pictures em um charmoso cinema que eles tem no local. Logo na entrada vemos o ambiente de filmes e ao começar o filme adentramos no universo do manicômio que vocês poderão conferir a crítica logo abaixo completa.
Tirei algumas fotos para mostrar a vocês:















CRÍTICA DE HOLOCAUSTO BRASILEIRO
Título Original: Holocausto Brasileiro
Data de lançamento 20 de novembro de 2016 diretamente para TV (1h 30min)
Direção: Daniela Arbex, Armando Mendz
Elenco: atores desconhecidos
Gênero Documentário
Nacionalidade Brasil
Algumas histórias parecem ficção de tão cruéis que são. Ao desvendar os horrores escondidos na nossa História do manicômio Colônia em Barbacena, Minas Gerais, o documentário nos coloca frente a frente com fotos da época e com depoimentos onde as pessoas não percebem o mal que ali faziam, para elas é tão comum que impressiona o jeito como descrevem suas atividades no local.
O hospital que foi fundado no início do século passado tinha o intuito de  tratar tuberculosos e pessoas com doenças mentais. Mas o que Daniela contou em seu livro e o que vemos no filme é que as pessoas de várias idades incluindo crianças eram levadas nos vagões  super lotados, uma por cima das outras, no trem que ficou conhecido como "trem de doido". O próprio maquinista da época - ou um deles, já que a história é muito antiga- conta que impressionava a forma como as pessoas eram tratadas, lembrando muito a forma como judeus eram transportados contra suas vontades para campos de concentração. 
Os que estavam ali para serem internados não tinham todos doenças de fato, eram muitos pobres, negros, gays, meninas que engravidaram e até mesmo prostitutas. Pessoas com as quais a sociedade não queria lidar, era dessa forma que o "problema" era resolvido.
Sem família ou mesmo com o aval delas, os pacientes eram mau tratados, muitos eram deixados nus e recebiam eletro-choques quando faziam perguntas demais. O depoimento de uma enfermeira que dizia que orava com eles mas mesmo assim dava os choques, nos faz indagar: porque mesmo ela não denunciou tudo aquilo? 
Há   ainda casos de pacientes que trabalharam gratuitamente na casa de diretores do hospital ou de funcionários somente recebendo alimentação em troca, um deles diz que eles trabalhavam para ele para depois se corrigir dizendo que nunca soube disso. 
Em média 5 pessoas morriam por dia, ao todo foram 60 mil pessoas mortas por falta de atendimento adequado e até mesmo de fome. Incomoda saber que até mesmo freiras iam ao local somente para explorar as pacientes pedindo que bordassem coisas para elas, mas jamais as dando o acalento que precisavam ou denunciando o que acontecia lá dentro.
Se formos para pensar era uma quantidade absurda de pessoas que sabiam do que ocorria ali ( estado, profissionais de saúde, parentes, etc) mas que não moveram uma palha para que aquilo não acontecesse mais.
Ao nos depararmos com as cenas, é um soco na boca do estômago, há emoção nas palavras dos fotógrafos que presenciaram os pacientes em estado péssimo durante os anos em que tudo aconteceu, meados da década de 60 até 1979. Apesar de coincidir com a época de ditadura do Brasil, não foram encontrados presos políticos nos dossiês, porém, nem todos os documentos foram divulgados à público. Para terem ideia, o local que foi fundado em 1903 com capacidade para 200 leitos chegou a receber 5 mil pessoas. 
Com uma nova direção hoje o hospital que ainda funciona trabalha com um tratamento onde o paciente fica boa parte do tempo em casa com seus familiares.
São muitos relatos fortes que nos fazem pensar em como tanta gente sofreu sem poder pedir ajuda. Mães eram separadas de seus filhos, famílias inteiras sofreram ao saber a verdade que só veio à tona anos mais tarde.
Um belíssimo documentário, assistam.

Para assistir no Festival do Rio
  • Sexta , dia 14 de outubro às 13:30h - CCBB - Cinema 1
  • Sábado, dia 15 de outubro às 16h - Cine Joia
  • Quarta-feira, dia 19 de outubro às 14 h - Ponto Cine

Para comprar o livro:



Debate com a equipe do filme:
Após a exibição tivemos um bate-papo com a Daniela Arbex, autora do livro e diretora, com o também diretor Armando Mendz, com o produtor Alessandro Arbex e com vice-presidente HBO Latin America Originals, Maria Angela de Jesus. 
Os presentes perguntaram sobre como eles conseguiram os depoimentos, já que a maioria deles era bastante comprometedor, além de permissão para filmarem dentro dos pavilhões ativados e desativados do hospital.
Daniela explicou que levaram meses para ganharem confiança mas uma das pessoas que aparece no filme e que atualmente é diretor da Fhemig, Jorge Nahas, foi fundamental por ele ser muito humanista. 















O debate levou cerca de 30 minutos, uma pena que não tenha levado meu exemplar para Daniela autografar. Mas garanti minha foto ao lado dela.
*Agradecimentos especiais à Tatiana Ito da Agência Febre e à Maysa Evelyn do blog Reino Literário Br pela oportunidade. 

4 comentários:

  1. Eu vi um filme recente(que não consigo me lembrar o nome nem a pau, onde Glória Pires interpreta uma médica que luta contra o que acontece dentro dos hospitais psiquiátricos). Aliás, é um filme maravilhoso!!! E já fiquei estarrecida com o pouco que foi mostrado da luta dela em tentar ajudar estas pessoas.
    E agora lendo tudo acima, já fiquei chocada. Saber que é de um passado não tão remoto assim.
    Quero e preciso muito ler o livro!!!
    Beijo

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  2. Nossa, fiquei chocada somente com o que você escreveu, que dirá com o documentário.
    Não gosto muito de ver esses tipos de filmes, mas sei que é preciso para ficarmos atentos e sabermos que as coisas são piores do que pensamos.
    Abraços e bjos.

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  3. Raffa!
    E eu que achava que aqui não teve holocausto.
    O filme deve ser de uma realidade tão cruel e dolorosa que cheguei a chorar com sua resenha e fiquei imaginando tudo pelo que as pessoas passaram...
    “Prefiro os erros do entusiasmo à indiferença da sabedoria.” (Anatole France)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
    TOP Comentarista de OUTUBRO com 3 livros + BRINDES e 3 ganhadores, participem!

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  4. É horrível saber que muita gente sabia do que acontecia lá e não denunciou, mais horrível ainda é saber que tinha gente que sabia e ainda assim internou familiar lá!
    Que isso nunca se repita em lugar nenhum do mundo!

    Beijos ^_^

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