sexta-feira, 16 de março de 2018

Menina que via Filmes: A Odisseia [Crítica]

  Título Original: L'Odyssée
Título em Português: A Odisseia
Data de Lançamento: 22 de março de 2018 
Direção: Jérôme Salle
Elenco: Lambert Wilson, Pierre Niney, Audrey Tautou
Gênero: Drama, Biografia, Aventura
Nacionalidade: França


por Clara Savelli

Sinopse: O aventureiro oceânico e cineasta francês Jacques-Yves Cousteau (Lambert Wilson) embarca em uma grande viagem com sua família na embarcação Calypso. Com o passar dos anos, no entanto, seu amor pelo mundo submerso - e suas possibilidades de negócios - relega a segundo plano a mulher (Audrey Tautou) e os filhos. Quando cresce, Phillippe (Pierre Niney) volta a bordo apesar da péssima relação com o pai e os dois precisam superar todas as diferenças e mágoas para sobreviver em alto-mar.


Nada do que eu vou contar nessa crítica é spoiler, visto que “A Odisseia” conta a história real de Jacques Cousteau, um famoso cineasta francês e explorador dos oceanos. Eu já tinha ouvido falar de Jacques Cousteau, mas me envergonha assumir que eu não sabia muito bem quem ele era. Da mesma forma, não sabia muito bem o que esperar do filme e, para minha alegria, fui positivamente surpreendida do início ao fim. 
O filme começa com uma cena forte: um hidroavião não consegue pousar com sucesso na água e começa a afundar. No take seguinte, um senhor de idade acorda revolto de um pesadelo, perguntando por alguém que se chama “Philippe”. Um rapaz na beira da cama informa que ele não é Phillipe, mas sim Jean-Michel. 
Voltamos no tempo. Jacques Cousteau é um jovem oficial militar, com a família perfeita, que acabou de comprar uma casa. Ele foi um dos co-inventores do “aqualung”, um aparelho de mergulho autônomo que facilitou a vida dos mergulhares. Desde que sofreu um acidente e não pode mais pilotar aviões pelo trabalho por conta do braço debilitado, Jacques desenvolveu um novo fascino: o mar. Junto com alguns amigos, Jacques dedica o tempo livre aos mergulhos e a produzir curtas-metragens sobre o que encontramos embaixo da água.
Sua esposa e seus dois filhos também desenvolvem um certo apreço pela água, mas, de longe, seu filho Philippe é o mais interessado. Ele tem verdadeiro fascino pelo mar, pelo ar e por tudo que envolve seu pai, visto como um grande exemplo e um grande herói para o menino. Seu irmão, Jean-Michel, é mais medroso e não gosta muito de mergulhar com o pai, nem mesmo quando ele arruma “aqualungs” em miniatura para que eles possam usar.

A paixão pelo desconhecido do oceano se intensifica com o passar do tempo e com novos curtas-metragens. Tanto que, com o apoio da esposa (e com as joias dela também), Jacques Cousteau consegue fazer um acordo com um milionário da época e financiar um barco. Calypso, como ele é nomeado, torna-se não só um lar para Jacques e sua esposa, Simone, como também se torna o maior companheiro da família. O casal quer sair para fazer novos filmes e explorar oceanos desconhecidos pelo mundo inteiro. Para isso, resolve deixar os dois filhos em um internato. 
Philippe fica muito magoado com a decisão dos pais e, apesar da mãe escrever sempre e mandar postais e fotos, ele continua se sentindo preterido. Temos uma lindíssima cena nesse momento, onde vemos um Philippe criança colocando o primeiro postal em seu armário do internato e a cena vai passando só com suas mãos, colocando novos postais. Quando chegamos no ponto de que ele já está praticamente cheio, a câmera se afasta e encontramos um Philippe crescido, em seu último dia no internato.
É quando Philippe se reencontra com a família que, para mim, o arco principal do filme começa. À essa altura, o império construído por Jacques está enfrentando dificuldades financeiras, apesar do sucesso mundial que seus filmes têm feito. E Jacques parece ter perdido o foco. Se o objetivo inicial da viagem era desbravar novos oceanos, ela se perdeu no meio. Agora Jacques não parece mais tão preocupado com o oceano ou os animais, mas sim com dinheiro, com produzir conteúdo cinematográfico fora d’água e com pagar suas dívidas.
Depois de tantos anos, Simone e Jacques estão passando por problemas no casamento e se distanciando. E, em certo ponto, Jacques não larga o trabalho nem mesmo para ir ao velório e enterro do próprio pai, que tem que ser cuidado por Jean-Michel. O relacionamento entre Philippe e o pai, já desgastado pela distância e pelo trauma do internato, se desgasta ainda mais quando ele vê a maneira como o pai está se comportando e quão distante ele está dos seus objetivos iniciais. A vida inteira Philippe tentou impressionar o pai e se provar digno dele, mas nunca pareceu suficiente. Em um rompante depois de um novo desentendimento, Philippe se distancia novamente e vai embora, viver a própria vida.
 Em uma tentativa quase desesperada de salvar seu império e pagar suas dívidas, Jacques consegue um financiamento minúsculo para partir em uma última expedição, para um território nunca antes explorado: a Antártida. Essa viagem é um momento de reconciliação familiar, cura e conscientização. Jacques começa a colocar sua mente em perspectiva ao se dar conta do impacto humano na natureza quando encontra traços de destruição até nesse continente desconhecido. 
Em paz com Philippe, pai e filho fundam uma Organização Sem Fins Lucrativos, que visa defender e proteger o planeta, conscientizando as pessoas da necessidade de cuidar melhor dele. Com isso em mente, os dois se unem para desbravar novas águas, agora expandindo os oceanos para águas doces também.
 Tudo parece estar se encaminhando para um final feliz mas, então, dentro do desenrolar dos acontecimentos, voltamos para a cena do avião que abriu o filme. E tudo vira de cabeça para o ar novamente. O filme acaba com lindas mensagens e nos deixando imensamente reflexivos. Como estamos tratando as pessoas que amamos? Estamos tratando nossas paixões como paixões ou como obsessões? Estamos aproveitando todos os momentos que temos disponíveis no planeta? E, acima de tudo, como estamos cuidando do planeta? Jacques Cousteau foi um grande ativista ambiental mas, mais importante que isso, ele é um exemplo de foco, dedicação e de humildade para assumir seus erros e melhorar nossa caminhada terrestre.


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* A opinião do filme ou das resenhas pertence ao colaborador que se compromete a enviar uma crítica de sua autoria para ser publicada no blog e divulgada nas demais redes sociais.

*Cabine de imprensa à convite da distribuidora.

7 comentários:

  1. Também vou ser sincera que só conheço o nome do explorador e cineasta da tv ou de entrevistas que vi há muito tempo com ele.
    Não sabia nadinha de sua jornada e estou aqui admirada com o filme! Ainda não tinha lido ou visto nada a respeito, mas acho tão incrível quando a gente tem a oportunidade de saber da vida de alguém que só vemos ali na telinha e por muitas vezes, até endeusamos estas pessoas, sem nos lembrar que eles são humanos, tem falhas, defeitos e fraquezas!
    Com certeza, verei este filme.
    Beijo

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    1. Acho que você vai gostar! Eu fui muito surpreendida :)

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  2. Não sou mto de ver filmes do gênero mas este me champou atenção, o tem escolhido parece deixar a história bacana, vou tentar ver.
    bjs

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    1. Eu também não costumo ver filmes desse genero, mas esse vale a pena, Aline :)

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  3. Não me interessei no momento em ver este filme, quem sabe mais pra frente ^_^

    Beijos :)

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  4. Adoro esses filmes que nos obrigam a pensar. O relacionamento da família deve render boas reflexões.

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  5. Em primeiro lugar, parabéns pelo blog e pela resenha do filme.

    Como mergulhador e oceanógrafo, sou muito fã do trabalho do Cousteau. Tenho vários livros e documentários que mostram o quão incrível é o legado deixado pela família. As imagens subaquáticas feitas por ele e sua equipe ao longo de quase quatro décadas ainda são únicas e de importância ímpar.

    Infelizmente, apesar de procurar bastante, até hoje não consegui encontrar essa filme para assistir. Estão nos meus planos assistir A Odisséia.

    Grande abraço e bons ventos!

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