quarta-feira, 27 de junho de 2018

Menina que via Filmes: Auto de Resistência [Crítica]
















Título Original: Auto de Resistência
Data de lançamento 28 de junho de 2018 (1h 44min)
Direção: Natasha Neri, Lula Carvalho
Elenco: atores desconhecidos
Gênero Documentário

Nacionalidade Brasil
por Reinaldo Barros


Sem dúvidas esse foi o documentário mais impactante que assisti até hoje, e esse impacto não foi devido exclusivamente ao conteúdo que por si só comoveu e causou indignação nos presentes, mas também pelo fato de ver, ouvir e sentir de perto (Elas estavam lá) o sofrimento das mães e familiares das vítimas de assassinatos cometidos por policiais.
O filme traz à tona a questão dos famosos autos de resistência, que são as resistências a prisão por parte do detido que por sua vez imprime violência ou não contra os policiais. Esse termo foi abolido em 2016 por uma resolução do Conselho Superior de Polícia e do Conselho Nacional dos Chefes da Polícia Civil. E como ficou? A mudança foi apenas na nomenclatura, no termo utilizado para definir um tipo de morte decorrente da intervenção de agentes do Estado a ser informado no inquérito policial.

Esse documentário vai tratar justamente esses homicídios, essas mortes supostamente em legítima defesa. Aqui você verá a precariedade do sistema judiciário e até mesmo da perícia criminal, pois na maior parte dos casos os relatos dos próprios policiais são a última palavra. Mas antes de entrar para assistir saiba que tudo que você verá é real, esse é um documentário sério e traz informações, sem exagero algum, assustadoras. Entre elas o número de mortes por “autos de resistência”, sim entre aspas porque a versão oficial, nos casos apresentados, foi desmentida pelas provas apresentadas. Vídeos comprovando a inocência das vítimas, contradição gritante entre depoimentos de um mesmo agente como um que alegou não ter efetuado nenhum disparo e depois assumiu que deu 6 tiros de fuzil contra a vítima.
Uma triste coincidência foi o lançamento da cabine no dia do enterro de Marcus Vinicius de 14 anos, morto com um tiro nas costas a caminho da escola. Lembra da Marielle Franco? Pois é ela está presente no filme, dando apoio às mães que perderam seus filhos.

Eu poderia ficar citando dados, algumas falas como a de um agente que se justificou pela tentativa de incriminar um inocente, ou detalhando como foi a morte das vítimas, mas isso só traria ares
mórbidos e sanguinolentos ao texto e para isso já temos Datena e cia. Esse filme é uma denúncia, um alerta para o que vem sendo praticado contra a população que vive nas favelas. De modo algum tem o objetivo de promover o ódio contra a polícia militar e civil, ou as forças armadas, a proposta é chamar a atenção para uma política negligente e fracassada do Estado, na qual trata uma parcela da sociedade como cidadãos de segunda classe, sem os mesmos direitos daqueles com o CEP privilegiado de cartões-postais.
Auto de Resistência nos mostra as deficiências das investigações policiais e do sistema judiciário, que por muitas das vezes arquivam os processos e incriminam os mortos sem que ajam provas dos crimes da vítima ou da legítima defesa do policial.

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* A opinião do filme ou das resenhas pertence ao colaborador que se compromete a enviar uma crítica de sua autoria para ser publicada no blog e divulgada nas demais redes sociais.


*Cabine de imprensa à convite da distribuidora.

5 comentários:

  1. Oi, Reinaldo.

    Imagino que o filme além de forte, é um tanto quanto delicado, afinal, é uma realidade existente sentida na pele.


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  2. Meu Deus! Fiquei lendo acima e tentando por um segundo apenas, me colocar na pele de algum pai, mãe ou que sejam amigos de quem já passou por algo semelhante e vou confessar que não deu.
    E o mais triste nisso tudo que se pode fazer mil filmes, documentários, livros e esta violência gratuita irá continuar ainda. Pois é do ser humano também, ser cruel.
    Quero muito poder conferir este documentário e farei assim que for possível!!
    Beijo

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  3. Ai meu Deus que tema delicado, sim porque toda historia tem os dois lados, doa a quem doer. Geralmente "bandido" está errado, pois se tivesse em casa assistindo a novela das 8 não seria bandido ou fazendo bandidagem, certo? Se levou um tiro GERALMENTE, alguma coisa ou está fazendo ou já tem antecedentes... a questão é que se vê pouco o outro lado da moeda, que tipo de vida essas pessoas tem ou em que ambiente cresceram. Algum tempo atrás assisti a um filme que mostra sim o outro lado e é um baita tapa na cara, a questão é muito cultural e já está enraizada e generalizada pelas periferias. Mas vou ser bem sincera, os direitos humanos estão distorcendo as coisa, a meu ver tambem não é por ai. Já li o cumulo de uma chamado no jornal que dizia: "bandidos se defendem da policia" COOMOOOO ASSIIIIIMMMM??? Desculpa, não consigo entender isso.

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  4. Uau, deve ser super impactante mesmo, um questão tão delicada, e com as mães ali presentes...

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  5. Raffa!
    Gosto demais de documentários do tipo, ainda mais quando tem um embasamento real de fontes fidedignas que passaram realmente pela situação.
    Não conhecia ainda o filme.
    Bom domingo e mês de julho!
    “Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda. “ (Clarice Lispector)
    cheirinhos
    Rudy

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