domingo, 14 de abril de 2019

Menina que via Filmes: O mau exemplo de Cameron Post [Crítica]


Título Original: The Miseducation of Cameron Post
Título no Brasi: O Mau Exemplo de Cameron Post
Data de lançamento 18 de abril de 2019 (1h 31min)
Direção: Desiree Akhavan
Elenco: Chloë Grace Moretz, Sasha Lane, Forrest Goodluck 
Gênero Drama
Nacionalidade EUA


por Larissa Rumiantzeff

Aviso de gatilho
O filme da vez é um drama independente estrelado por Chloë Grace Moretz. A obra é uma adaptação do romance homônimo de 2012 voltado para o público jovem-adulto. É dirigido por Desiree Akhavan que compartilha também os créditos do roteiro com Cecilia Frugiuele. Além disso, é uma máquina do tempo incômoda, e uma prova do que meu professor da quinta série disse uma vez: a história sempre se repete. 
O mau exemplo de Cameron Post não é um filme típico de sessão da tarde, e não digo isso por causa da temática. Não é um romance. Se quiser ver piqueniques, passeios pelo parque e marshmallow, indico “Com amor, Simon”. Se quiser um romance mais tórrido, procure, de repente, “Me chame pelo seu nome”. O mau exemplo de Cameron Post é um drama, e dos mais indigestos. 

Em 1993, Cameron está se preparando para o baile da escola. Ela mora com a irmã, e se descobre apaixonada pela melhor amiga, Coley Taylor. Sempre que podem, as duas ficam juntas às escondidas, até que são pegas no flagra pelo namorado da Cameron. É aí que a vida da adolescente muda completamente. Ela é internada à força em um acampamento de “cura gay” no meio do nada. O nome do acampamento é “God’s promise”, Promessa de Deus, em inglês. 
Comandado pela terapeuta Lydia Marsh e seu irmão, o “gay convertido” Rick Marsh, o lugar reúne vários adolescentes LGBT, que, nas palavras dos irmãos, não são gays, mas sofrem de “confusão de gênero”. Suas dinâmicas, que Rick garante que o “curaram”, envolvem tarefas domésticas, terapia em grupo, exercícios apropriados para cada gênero, e confronto, com uma boa dose de culpa cristã e auto depreciação, além de contato restrito com a família. 
Ao longo do filme, Cameron conhece melhor os outros adolescentes e suas histórias, e faz amizade com Jane Fonda, uma garota hippie, e Adam Red Eagle, um Winkté (que significa dois espíritos) da tribo norte-americana Lakota. Tem inclusive uma certa amizade com Rick. 
“O mau exemplo de Cameron Post” é um filme bem-feito, com atores talentosos. Chloë Grace Moretz é criticada, um ódio injustificado, na minha opinião. Ela sempre mostrou talento, desde o início da carreira, e aqui não foi diferente. Além disso, Chloë tende a ser politicamente engajada, e a escolher papéis difíceis e desafiadores. O fato de ela ter escolhido atuar nesse filme só conta mais pontos a seu favor. 
Mas não é o único nome que se destaca. Forrest Goodluck, o Adam, fez papel do filho do Leo Di Caprio em “O Regresso”, o Hawk.  O filme conta ainda com a atuação primorosa da atriz britânica Jennifer Ehle, dando vida a Lydia Marsh, uma psicóloga que causa impacto pelo contraste entre seu jeito calmo e sereno e o comportamento que beira a sociopatia. Antes da vilã, Jennifer já tinha um currículo extenso, que inclui papéis como Lizzie Bennet, em Orgulho e Preconceito, Josie em Vox Lux (outro filme resenhado aqui), a mãe de Anastasia Steele na trilogia dos 50 tons, e Contágio. As melhores cenas do filme são os embates entre Cameron e Lydia em que as duas atuam no mesmo patamar.
A trilha sonora é eficiente pela ausência: só ouvimos alguma música quando ela está sendo tocada para os adolescentes, e geralmente representa uma fuga. Ela está presente no primeiro ato, durante o baile, antes de Cameron ser descoberta, em um momento específico de descontração na cozinha e em um show de música gospel no acampamento, momento de diversão controlada. Fora isso, o único som que ouvimos é o das falas e o do ambiente. Esse momento mostra bem a escolha acertada da direção. 
Apesar de ser um filme mais alternativo, tem as pontas bem amarradas. Sabemos exatamente o que está acontecendo na história e é possível entender o seu desenrolar sem fazer um exercício mental muito extenso. Sabemos exatamente como a protagonista evolui ao fim do terceiro ato e, nesse sentido, apesar de independente, não se trata de um trabalho experimental. Não chega a ser apelativo: as cenas de nudez e sexo estão dentro do contexto da história. 
Mais incômodo do que as cenas ou referências a sexo é ver a que são submetidos os adolescentes na história. Se a idade já é confusa, com dúvidas, conflitos, e descobertas, imagina isso em um contexto em que ser você é considerado pecado? Imagina estar em um lugar em que a sua orientação sexual, parte de quem você é, é considerada uma doença, tipo alcoolismo ou dependência química, e estar entre pessoas que, longe de te aceitarem e apoiarem, te convencem o tempo inteiro que o que você deseja é errado.  Some-se a isso uma psicóloga tão maquiavélica que distorce conceitos legítimos de psicologia e te convence de que não, seus pais não têm orgulho de você. Se você tem uma religião, condicionam a sua salvação a abrir mão da sua natureza. Imagina dizer isso para uma pessoa que já está sozinha, sem a família, em uma posição vulnerável? Estamos em uma era de conscientização, em que as pessoas estão sendo apresentadas a conceitos como relações tóxicas e abuso emocional, muito presentes na narrativa. 
Mesmo situado no início dos anos 90, O mau exemplo de Cameron Post é contemporâneo. Estamos vivendo uma onda de intolerância no mundo inteiro. Mesmo no âmbito nacional, temos ministros retrógrados e uma agenda governamental que visa claramente discriminar as minorias. Se ainda não temos acampamentos desse tipo, é uma questão de tempo. E isso, para qualquer pessoa que tenha amigos LGBTQI, ou que faça parte desse grupo, é aterrorizante. O impacto desse filme é mostrar que, em quase 30 anos, pouca coisa mudou. Essas pessoas continuam sendo alvo de ódio, de preconceito e de abuso. E por isso mesmo é tão necessário. 
O gênero jovem-adulto é um dos meus gêneros preferidos, por lidar com autoconhecimento e crescimento. O filme trata de um tema capcioso com sensibilidade, o que me deu vontade de ler o livro. Alguns filmes causam incômodo por causar, outros te fazem pensar muito depois que as luzes se acendem. Felizmente, esse foi o último caso. 
Apesar da qualidade, da relevância para os dias de hoje e da importância, não recomendaria este filme para qualquer público. Não diria que é restrito ao público LGBT, os temas são universais, mas é uma história que se passa nesse contexto. O enredo prende, comove e os personagens são bem desenvolvidos. Porém, não é todo mundo que encara um filme mais realista, com teor mais crítico, sobre esse tema. Além disso, pode conter gatilhos, e dependendo da sensibilidade para temas como abuso emocional e suicídio, pode fazer mais mal do que bem. É importante se conhecer, saber o que você encara e o que prefere evitar.  


Crítica 2 


Jéssica de Aguiar


Baseado em fatos reais que também deram origem ao livro homônimo, “O mau exemplo de Cameron Post” se passa nos Estados Unidos durante o início dos anos 90. A história é centrada na jovem Cameron (Chloë Grace Moretz), que teve o romance ardente com sua colega de estudos bíblicos flagrado, pelo seu então namorado. Em decorrência do flagra, Cameron é enviada por sua tia para uma espécie de acampamento religioso que possui como foco aplicar a “cura gay” em jovens.
A instituição, liderada pelo reverendo, que considera curada sua “confusão de gênero” (John Gallagher Jr.) e a terapeuta que mistura técnicas nada ortodoxas com doses exageradas de religião (interpretada por Jennifer Ehle). O espaço tem os moldes de um acampamento de inverno, com direito a trilhas e esportes (separados por categorias de gênero) ao ar livre, mas é também cercado por uma atmosfera opressora que busca inserir por meio da religião, preconceitos e aversão aos desejos. 
Embora a trama seja focada na história de Cameron e sua possível conversão, outros personagens também recebem destaque. Com diversos dramas e diferentes formas de enfrentá-los, os jovens internos se cruzam na ruptura em suas trajetórias de autodescoberta que resulta nas internações. 
As dúvidas e descobertas que acometem qualquer jovem na fase da adolescência são aqui abordadas de forma impactante. É exposto como a revelação da sexualidade que foge às expectativas familiares ou sociais podem se tornar uma verdadeira prisão, forjada nos preconceitos e limitações impostos. 

A obra mostra de forma crua, tão crua que se torna incômoda em certos momentos, como um dogma pode ser utilizado para reprimir e manipular indivíduos, e levanta questionamentos sobre liberdade de identidade, de sexualidade e religião. Isso é o que torna “O mau exemplo de Cameron Post” uma obra atual apesar de ser ambientada há mais de 20 anos atrás. 

Cabine de imprensa à convite da distribuidora
*Nossos colunistas são voluntários, os textos assinados por eles são originais de suas autorias. 
*Alguns filmes são feitas críticas por mais de uma vez no blog, é o caso desse onde 2 colunistas assistiram para darem sua opinião. 







4 comentários:

  1. Eu acabei vendo este filme já tem um tempinho(ele acabou "vazando" na internet bem antes de ser lançado.
    Concordo em parte com as duas opiniões, não é um filme leve, não é um enredo gostoso de ser visto, mas sei lá, eu penso que ainda há tanto disso hoje em dia e que em algum lugar, deva ter um lugar como apresentado no filme, onde se pode "curar" a sexualidade de alguém(ou no mínimo, temos milhares que acreditam nisso)
    É um filme denso, triste..pesado.
    Mas eu? Super recomendo! E oh, Chloe é magnífica!
    Beijo

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  2. Adorei as críticas, já estava acompanhado notícias sobre o filme, e estou doida pra ver, ana a Chloe <3

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  3. Quando vi o trailer um tempo atrás fiquei com muita vontade de assistir. Vou tentar ver agora q saiu aqui.
    Beijos 😊

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  4. Olá!
    Eu amo muito essa atriz, ela atua muito bem. Não tinha visto esse filme e nem sabia dele, agora sabendo fiquei um tanto curiosa por ele. O enrendo aborda tema muitos interessantes e mostra coisas bem real, que chega a ser perto da realidade.

    Meu blog:
    Tempos Literários

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