quarta-feira, 19 de junho de 2019

Menina que via Filmes: Maya [Crítica]


Título Original: Maya
Título no Brasil: Maya
Data de lançamento 20 de junho de 2019 (1h 45min)
Direção: Mia Hansen-Løve
Elenco: Roman Kolinka, Aarshi Banerjee, Alex Descas 
Gêneros Drama, Romance
Nacionalidades França, Alemanha
por Jéssica de Aguiar

Gabriel (Roman Kolinka) é um repórter correspondente de guerra que foi recém liberto de um cativeiro, onde esteve refém por meses com dois colegas de profissão sob o domínio do ISIS. Em seu retorno à França é obrigado a lidar com questões pessoais mal resolvidas acrescido do trauma deixado pelo seqüestro. Mas apesar de receber a oportunidade de tratamento psicológico, o jornalista se diz, ironicamente, “ruim com palavras” e decide partir em uma jornada terapêutica para a Índia, país em que viveu sua infância e onde ainda moram seu padrinho e sua mãe. 

Deixando para trás um relacionamento amoroso fracassado, uma proposta de parceria em livro sobre as memórias como refém e as freqüentes notícias sobre seu amigo que ainda permanecera seqüestrado, Gabriel embarca em uma viagem com o pretexto de reformar a antiga casa de campo de sua família, onde passara suas férias na infância. Apenas na chegada ao hotel de Monty, seu padrinho, se dá o encontro com Maya (Aarshi Banerjee), a jovem é filha de Monty e estuda em casa, mas por recomendação de sua família deve embarcar para a Austrália e terminar seus estudos longe de Goa, sua terra natal.
A única coisa que Gabriel e Maya têm em comum, além da relação com Monty, é o desejo de desbravar novos lugares, e isto os une em uma viagem por cidades vizinhas. Maya se torna a guia turística e Gabriel traça caminhos que o levam a se aproximar simbolicamente de sua mãe, como fica explícito na escolha pela visita à praia que possui o mesmo nome escolhido por ela para batizar a casa de campo. 

Unidos em paisagens paradisíacas, Maya e Gabriel desenvolvem uma espécie de romance, que possui ausência total de química entre os atores e, apesar dos cenários deslumbrantes ao fundo, os personagens não parecem conseguir se conectar romanticamente aos olhos do espectador. Além da, no mínimo, estranheza causada pela diferença de idade entre os personagens (ele na casa dos trinta anos e ela ainda no colegial), ambos possuem diálogos fracos e pecam até na linguagem corporal. Em todos os momentos entre os dois a sensação transmitida é de desconforto, uma ausência total de sintonia entre atores e personagens.
 Maya dá nome ao longa mas é uma personagem pouco explorada, tudo gira em torno de Gabriel e suas questões ou emoções, que por diversas vezes passam por cima de Maya. A jovem se mostra inicialmente sonhadora, mas preocupada com o pai, fala sobre o carinho que tem por sua terra natal, e se destaca como uma adolescente fora dos padrões conservadores indianos, Maya possui oportunidade de estudar fora e desenvolver uma carreira, mas todos esses aspectos são colocados de forma muito vaga e a sua personalidade não foi desenvolvida ou exposta ao público de forma consistente para a criação de carisma. 
Roman Kolinka, intérprete de Gabriel, por sua vez, consegue transmitir a melancolia de alguém que passou recentemente por um trauma, mas se perde em gestos engessados e excesso de inexpressividade ao desenrolar da trama. A busca do personagem se mostra inicialmente por tranqüilidade, mas com sua chegada à Índia fica evidente a necessidade de reaproximação com sua mãe e o ressentimento causado pelo abandono. Gabriel é um jornalista de sucesso, mas emocionalmente é fracassado, e esse fracasso se mostra na tentativa de se relacionar com as mulheres de sua vida. 
O longa dirigido e escrito por Mia Hansen-Løve possui erros e acertos, onde, definitivamente a fotografia é o acerto principal. Filmado em três países diferentes (França, Índia e Jordânia) e usando câmera de 16mm para uma textura diferenciada no produto final, “Maya” é praticamente um roteiro de viagens, mostra a costa da Índia, fugindo daquela imagem padrão do Taj Mahal ou das ruas superlotadas e encanta o público com praia e pôr do sol. O cenário escolhido para a transição do personagem central evidencia a busca por um sentimento de acolhimento, Gabriel sai da fria Paris para o ensolarado litoral indiano, onde faz longos passeios de moto mostrando a sua constante busca. 
Apesar de possuir fotografia agradável, a obra peca no desenvolvimento dos personagens e, principalmente, na pobreza dos diálogos, verbais e não verbais. A trilha sonora por sua vez, ajuda a ambientação, tanto na fase francesa, quanto na indiana, e se torna um aspecto positivo na experiência. 
Mia Hansen-Løve foi diretora também de “Éden”(2014), que contava a trajetória de jovens dos anos 90 em meio ao cenário musical underground de boates e raves. A sensação de busca vazia pode ser sentida novamente em Maya, onde Gabriel, apesar de possuir uma história de vida densa, não parece desejar de fato nada, ou no máximo, ser definido por sua profissão. O filme também pode causar estranheza por parte de espectadoras femininas, ao descobrir que um roteiro escrito por mulher pode também ser capaz de diminuir e objetificar uma personagem feminina. 

*Cabine de imprensa à convite da distribuidora
*Nossos colunistas são voluntários, os textos assinados por eles são originais de suas autorias.

5 comentários:

  1. Esse vou deixar passar, parece que o filme não vai a lugar nenhum rs

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  2. Olá! O filme parecia ter um grande potencial, mas infelizmente não parece suprir as expectativas. Me incomodou muito saber que mesmo o roteiro sendo escrito por uma mulher, Maya não teve o destaque que merecia, era para Maya ser o foco do filme, uma pena que isso não aconteceu. É uma pena que não desenvolveram bem os personagens e que os diálogos são pobres.
    Beijos!

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  3. Eu sou meio do contra. Sei lá, gosto de filmes, livros que tragam pessoas que tentam a todo custo deixar um passado sofrido para trás.
    E no caso do filme acima, ambos os personagens tem marcas profundas na alma, na carne.
    Mesmo sendo paradinho e sem esse aprofundamento nos diálogos e nos personagens, quero sim, poder ver!!!
    Beijo

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  4. Achei que o filme teria um enredo sensacional, afinal, um personagem em busca de si mesmo viajando por vários lugares, deveria finalizar com um sentido em tudo isso. Às vezes, um romance forçado assim, só atrapalha a trama. Não fiquei tão interessada em assistir, apesar da fotografia ser tão boa.

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  5. Oiii ❤ É uma pena que esse filme não seja tão bom quanto parece. Quando iniciei a resenha achei que seria um filme memorável, mas ao terminar, acho que esse filme não me agradaria muito.
    Não gosto quando personagens dentro de uma trama não são bem construídos, isso me desanima, pois adoro personagens profundos, bem trabalhados.
    Casais sem química é outra coisa que me incomoda, prefiro filmes sem romance, do que com um casal mal trabalhado e sem química.
    Ainda não decidi se quero assisti rsrsrs ❤

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