domingo, 20 de outubro de 2019

Menina que via filmes: Amor em Jogo [Crítica]


Título em inglês: Kicking out Shoshana
Título no Brasil: Amor em Jogo 
Lançamento original: 2014
País: Israel
Idioma: Hebraico
Direção: Shay Kanot
Roteiro: Oded Rozen
Elenco: Oshri Cohen, Gal Gadot, Eli Finish, Mariano Idelman, Yossi Marshek, Yaniv Biton Rotem Keinan, Einat Weitzman, Angel Bonanni, Tzvi Shissel, Miki Kam, Kobi Moran, Ami Smolartchik, Yaakov Zada Daniel, Zevulun Mosheashvili, Nicky Goldstein, Tal Kalay, Niso Shalev
Lançamento no Brasil: 31 de outubro de 2019
por Larissa Rumiantzeff

Filme israelense usa universo LGBT e mundo futebolístico, mas dá alguns “kloses” errados, ficando no zero a zero. 

Pode conter revelações sobre o enredo
Uma das coisas que mais chamam a atenção no cartaz de “Amor em jogo” é a estrela internacional Gal Gadot. 
O filme lançado originalmente em 2014 conta a história do astro do futebol Ami Shushan. Premiado, reverenciado e aplaudido pelos fãs do time ao qual pertence, na cidade conservadora de Jerusalém, Ami parece uma versão fictícia do Neymar. Seu empresário, por sua vez, vive elaborando planos para colocá-lo na mídia. Falem bem ou falem mal, mas falem de mim, certo?
Acontece que Shushan se interessa pela mulher errada. A chave de cadeia Mirit (Gadot) está na porta de uma boate, e os dois literalmente se esbarram. Quando um paparazzo contratado pelo empresário registra o momento fabricado, todos os envolvidos se lascam. Um deles é o próprio Shushan. Acontece que Mirit tem dono. Literalmente. Ela é a protegida de um mafioso russo obcecado por ela que, ao flagrar a cena, ameaça castrar Amir. No entanto, o criminoso decide por uma punição “socioeducativa”: forçá-lo a dizer, em rede nacional, que é gay. 

Após a revelação, sua vida muda radicalmente. Demitido pelo clube, excluído pelos colegas de time, lidando com a violência e a discriminação dos fãs mais conservadores, sendo inclusive chamado de Shoshana, enquanto é exaltado pela comunidade LGBT, Amir acaba aceitando a oferta de uma fundação, para representar a comunidade na mídia e nos eventos. Mas como o rapaz levará a mentira adiante, e ainda lucrar com isso, quando seu coração pertence a Mirit?

A ideia do filme é interessante a princípio. Discutir a homofobia no universo do futebol e a construção e a destruição de astros pela mídia e pelos fãs. Fiquei empolgada quando vi para onde ele caminhava, e desanimei novamente, ao ver o resultado. 
É no mínimo arriscado contar uma história retratando uma minoria. É preciso pesquisar muito para não errar a mão e estereotipá-la. Eu entendo que a intenção do roteirista e do diretor talvez fosse de abordar a questão da homofobia velada no esporte, principalmente no cenário do futebol, um universo que ainda é muito dominado pelo machismo, e contrastá-la com a possibilidade de um jogador gay. 
Isso, para mim, foi a melhor parte do filme. A premissa. A intenção do debate. Trazer para as telas uma questão atual, mesmo com 5 anos de diferença entre o lançamento local e internacional. 
Contudo, logo fica claro que o roteiro é escrito de uma perspectiva hétero, sem o cuidado de passar por uma leitura sensível quando se mostra homens héteros disfarçados de drag queen em uma parada gay, uma mulher objeto inexpressiva que se apaixona pelo jogador instantaneamente “porque ele é bonito”, todos os personagens gays estereotipados de alguma forma, e um protagonista hétero que finge ser gay para servir aos próprios objetivos e lucrar com isso, o enredo desanda um pouco. E cai na bobeira. 
Shushan é, do ponto de vista de um amigo, o gay mais hétero, e é encorajado a agir como tal para gerar a simpatia do público e criar identificação com os fãs héteros. É o que o próprio filme faz o tempo todo. 
Não chega a ser um “Cruzeiro das Loucas”, porque pelo menos tenta discutir o preconceito e amadurecer o ponto de vista do personagem além do velho “não tenho preconceito, tenho até amigos que são”.
Contudo, os motivos do mafioso para a chantagem não partem de uma proposta: fulano foi homofóbico, ele precisa aprender uma lição. O personagem não é forçado a olhar para esse mundo por ter agido de forma discriminatória anteriormente, e sim com a intenção de prejudicar sua carreira como retaliação por ter gostado da mulher alheia. Mulher essa que não tem voz. Não há nada de “educativo” na punição. Continua sendo a história de um personagem que finge ser parte de uma minoria para sobreviver e depois se beneficia disso. Inclusive para conquistar mulheres. Oi?
Se a punição tivesse partido da Mirit, eu entenderia um pouco melhor, pois o Amir do início do filme é incapaz de aceitar um Não.  Sem dúvida, teria sido interessante vê-lo lidar com as consequências dos avanços se ela tivesse tido alguma agência na punição do avanço indesejado.
Inclusive, em termos de protagonismo feminino, eu não fiquei muito satisfeita, mas pelo menos há uma pequena transformação na personagem, em seu conflito para escapar da vida que leva. Os erros continuam em uma conversa breve entre Mirit e outra mulher sobre viver de aparências. Eram duas mulheres, falando sobre um assunto que não fosse um homem. Ganhou pontos. Acontece que ou eu entendi errado a conversa das duas, ou a personagem entendeu. A motivação que ela encontra para se libertar é completamente diferente do que se tira da conversa. Como assim, a mulher faz com que ela mude de ideia sobre não fazer a cirurgia que ela já não queria fazer, e não a se defender dos abusos do mafioso sugar daddy dela? Está confuso. 
Por falar em Gal Gadot, fica claro que este foi um dos primeiros filmes da sua carreira, e o primeiro em que ela fala hebraico. Sua atuação está tímida, ainda sem brilho. O ator Oshri Cohen, presente em outro filme resenhado aqui (Não mexa com ela) está um pouco melhor. Ele convence totalmente na pele de um jogador de futebol famoso típico. 
Por tudo que foi discutido aqui, eu recomendaria este filme despretensioso para o público fã de comédias românticas e de futebol. Como comédia é ok. “Amor em jogo” é o tipo de clássico da sessão da tarde. Ele garante algumas risadas, alguns momentos vergonha alheia, mas aviso que foge pouco do clichê do gênero e não consegui torcer muito para nenhum dos personagens. A sensação que dá é de bastante potencial, só que mal aproveitado.







5 comentários:

  1. Confesso que ainda não tinha lido ou visto nada sobre este filme, mas a sensação que dá é que realmente tinha tudo para ter dado certo e não deu, infelizmente.
    Mesmo assim, se puder, irei conferir!!!!
    Beijo

    Rubro Rosa/ O Vazio na flor

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  2. Larissa!
    Mesmo com toda boa intenção que houve durante o filme, em abordar a questão do preconceito, não achei que seja um filme que valaha a pena assistir, porque não vai acrescentar muito.
    cheirinhos
    Rudy

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  3. O filme tem potencial, o tema vai ser atual por muitos anos, mas foi bem mal executado pelo jeito

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  4. Olá! ♡ Ainda não conhecia esse filme, e não sinto muita vontade de conhecê-lo. A premissa do mesmo é interessante, o filme de fato pareceria ter potêncial, mas é uma pena que esse potencial não foi devidamente aproveitado como poderia ter sido.
    Beijos!

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  5. Oiii ❤ Realmente, a premissa é bem chamativa já que parecia trabalhar o tema do preconceito no futebol, mas é uma pena que não cumpre tudo o que promete.
    Chamou minha atenção o filme ter a Gal Gadot, mas é uma pena também a atriz não ter brilhado, já que eu achei que ela ia fazer uma ótima atuação.
    Não sei se assistiria.
    Beijos ❤

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