Como fazer humor sem apelar. Assisti Eu Comigo Mesmo com Rafael Portugal

 

Título Original: Eu Comigo Mesmo

Gênero: Stand-Up Comedy

Elenco: Rafael Portugal

Local: Teatro Riachuelo – RJ

* Convite do ReinoNews 

 

Antes de mais nada cabe informar nesse texto que eu sou muito difícil de gostar de qualquer produção que envolva o termo “ comédia”. Ultimamente tenho me deparado com peças de teatro e produções para o cinema tanto nacionais quanto internacionais que apelam para as piadas envolvendo sexo sem se atentarem que há um limite para o que é graça e para o que constrange as pessoas. E eu não sou nenhuma puritana, gosto de livros, filmes...puxados para o erotismo, desde que haja contexto para isso.

Uma das minhas últimas idas ao teatro foi para assistir um Stand-Up Comedy traumatizante, olhei para meu marido na esperança que fosse somente eu a não achar que tinha perdido uma grana pagando para assistir piadas sem graça que constrangiam a plateia com uma peça que levava nome de algo referente a muito trabalho, mas a comediante não teve nenhuma em pensar um pouco mais e não envolver um palavrão só para fazer graça em algo que só ela achava ( ou talvez adolescentes de 15 anos, que eu nem sei se entravam na tal peça).

Essa pequena introdução é para explicar que fui assistir Eu Comigo Mesmo sem expectativas. Ao chegar ao local vi que os ingressos estavam esgotados e muita gente perguntando se eu queria vender o meu. A maioria das pessoas ali tinham entre 20 e 40 anos mas alguns estavam acompanhados de idosos que lotaram rapidamente o teatro.

Sem atrasos, Rafael Portugal entrou em cena e dali em diante eu confesso que não me recordo a última vez que ri tanto. De pensamento rápido e piadas extremamente envolventes e inteligentes, Rafael não precisou de muito para ganhar a imensa plateia.

Claro que há uma identificação do público por ele ser carioca e abordar temas que nos são conhecidos como a longitude do bairro em que foi criado ( Realengo) e as questões que envolvem quem cresceu na zona norte, subúrbio etc com quem só conhece a vida na Zona Sul do Rio de Janeiro.

Ele chegou a espantar-se que boa parte da plateia tinha andando de trem – no Rio de Janeiro  o trem não passa em bairros da Zona Sul, somente as linhas do metrô – e claro que fez muitas piadas engraçadíssimas envolvendo os vagões lotados. Também brincou com quem sempre estudou em escola privada e quem conhece – assim como ele – o que é estudar em uma escola pública.

Não há ali nenhum vitimismo, apenas situações que são comuns por vivências diferentes de classes sociais que vivem uma realidade que não lhes é comum tanto para quem mora em Realengo quanto para quem só conhece a cidade pela perspectiva do Flamengo ou Laranjeiras ( bairros citados por eles). Vale lembrar que todos os bairros tem comunidades, portanto há em todos eles pessoas de diferentes vivências, mas ele em nenhum momento constrange as pessoas, consegue fazê-las participar de diferentes idades de momentos que são muito interessantes de seu show.

Minha experiência com a peça foi extremamente positiva, o tempo passou rápido, eu mal tinha terminado de rir da piada anterior e ele já improvisava algo que me dava vontade de rir novamente.

Ainda que o conhecesse de programas como BBB ou de esquetes do Porta dos Fundos, fiquei encantada com a forma simples, inclusiva e sem constrangimentos e utilização de piadas sem contexto que ele apresentou.

Excelente, recomendo muito.

 

Por Raffa Fustagno

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