domingo, 18 de maio de 2025

Serra das Almas

 


Título Original: Serra das Almas

Ano: 2025 

País: Brasil

Direção: Lírio Ferreira

Roteiro: Paulo Fontenelle, Audemir Leuzinger   

Elenco: Julia Stockler, Mari Oliveira, Pally Siqueira

Nota: 4/5

Por Amanda Gomes


Um golpe e um sequestro, então, prendem numa mesma casa duas jornalistas, um casal, dois ladrões e um desconhecido envolvido por acaso, obrigando-os a enfrentar o tempo e a si mesmos.

Sabe quando a gente entra na sala de cinema com aquela sensação de que está prestes a ver algo grande? Foi exatamente assim que me senti com “Serra das Almas”. O filme tinha todos os ingredientes para ser um marco no suspense político nacional: um cenário deslumbrante no sertão dos Inhamuns, um roubo de joias que dá início a uma trama de tensão e mistério, personagens com passados entrelaçados e um grupo de jornalistas peitando um esquema mafioso com políticos corruptos. A promessa era de arrepiar. Mas, infelizmente, a entrega ficou bem longe disso.

O que parecia ser um projeto ousado, daqueles que nos fazem lembrar da força do cinema brasileiro, acaba se transformando numa sequência arrastada de subtramas esquecíveis, atuações oscilantes e uma tentativa de crítica social que não encontra profundidade. A sensação é de que “Serra das Almas” não sabe ao certo o que quer ser — e, pior, não parece muito preocupado em descobrir.

A direção até tenta causar impacto desde os primeiros minutos, jogando a gente direto no caos com gritos, tiroteios e trilha sonora no volume máximo. É tudo tão saturado que chega a ser difícil entender o que está acontecendo. Aos poucos, a narrativa se estabiliza, e começamos a conhecer os muitos personagens que vão revezando seus pontos de vista. Mas o excesso de protagonistas, unido a idas e vindas temporais pouco inspiradas, dilui qualquer tensão que o filme poderia manter.

Se há um ponto positivo, ele atende pelo nome de Ravel Andrade. No papel de Gislano, o braço-direito do senador corrupto, ele entrega uma atuação intensa e cheia de nuances, mesmo cercado por colegas que parecem não ter recebido a mesma direção. Julia Stockler e Pally Siqueira, que interpretam as jornalistas sequestradas, têm carisma, mas estão presas a personagens que não evoluem, não questionam, não reagem. Já David Santos e Vertin Moura não conseguem sustentar seus papéis e acabam prejudicados por diálogos pouco naturais e escolhas de roteiro questionáveis.

A ambientação, que poderia ser um grande trunfo, também não ajuda muito. O sertão, ao invés de servir como cenário simbólico para a tensão política e social que o filme propõe, vira pano de fundo para cenas repetitivas, que mais cansam do que envolvem. A trilha sonora aposta em ruídos e dissonâncias que, em vez de ampliar a imersão, só reforçam a sensação de desordem. E os recursos de montagem e flashbacks – que deveriam amarrar a narrativa – mais confundem do que conectam.

Mesmo quando o filme parece abraçar um tom mais lúdico e surrealista — com a chegada de personagens mascarados ou a aparição de uma vaca ameaçadora — ele não sustenta essa escolha por tempo suficiente para que faça sentido. O resultado é um vai e vem entre o realismo político e a sátira de gêneros que nunca se resolve por completo.

E é justamente essa falta de direção clara que mais incomoda. Porque havia ali, sim, a chance de construir algo relevante sobre o Brasil de hoje, sobre poder, corrupção, desigualdade. Mas, no fim das contas, Serra das Almas não diz nada novo — e, pior, parece não saber o que queria dizer. O potencial se esvai, como água no chão seco do sertão.

No fim, fica a impressão de que vimos um esboço, não um filme finalizado. Um projeto que flerta com grandes ideias, mas se entrega a soluções rasas. Um longa que promete ser um grito, mas ecoa como um sussurro perdido. E, quando os créditos finalmente sobem, tudo que sobra é o lamento por aquilo que poderia ter sido.

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