segunda-feira, 2 de junho de 2025

O Esquema Fenício [Crítica]

 


Título Original: The Phoenician Scheme

Título no Brasil: O Esquema Fenício

Ano: 2025 

País: Estados Unidos

Direção: Wes Anderson

Roteiro: Wes Anderson

Elenco:  Benicio Del Toro, Mia Threapleton, Michael Cera

Nota: 3 /5

Por Amanda Gomes 

Na trama de “O Esquema Fenício” acompanhamos Zsa Zsa Korda, um empresário excêntrico que escolhe sua filha Liesl como herdeira de seus negócios — uma decisão que rapidamente os transforma em alvos de magnatas, terroristas e assassinos internacionais. A proposta é uma sátira de espionagem com toques de aventura, com aquele tempero "andersoniano" que já conhecemos.

Logo de cara, uma coisa é clara: Michael Cera nasceu para atuar num filme de Wes Anderson. Interpretando Bjorn Lund, um personagem secundário que rouba a cena, ele entrega alguns dos momentos mais interessantes ao lado de Threapleton. O trio principal mergulha de cabeça na excentricidade típica do diretor, mas, curiosamente, isso não é suficiente para manter o ritmo envolvente ao longo dos seus 105 minutos.

Apesar de reunir um elenco carismático — com nomes de peso como Tom Hanks, Scarlett Johansson, Benedict Cumberbatch, Riz Ahmed e Bryan Cranston —, o filme não floresce como deveria. Há momentos em que a história simplesmente escapa do controle, tornando-se lenta e repetitiva, com humor pontual que nem sempre funciona.

E isso acaba sendo decepcionante. Anderson entregou recentemente projetos brilhantes como Asteroid City (2023) e os delicados curtas inspirados nos contos de Roald Dahl para a Netflix — obras que mostraram sua capacidade de emocionar mesmo dentro de sua estética rigorosa. Aqui, no entanto, o que se vê é uma narrativa apática, que não engata nem nas reviravoltas nem nas relações entre os personagens.

Claro, não dá pra negar: O Esquema Fenício é visualmente deslumbrante. Cada quadro parece uma pintura meticulosamente planejada, daquelas que daria vontade de emoldurar. A direção de arte de Anna Pinnock é um espetáculo à parte — e sim, parece que cada objeto de cena foi escolhido em antiquários franceses. Mas tudo é tão milimetricamente calculado, tão excessivo, que o filme perde a espontaneidade. Fica bonito, mas vazio.

A história, ou o que se propõe a ser, gira em torno de Zsa Zsa Korda, um magnata absurdamente vaidoso que decide, após uma série de atentados (e visões celestiais com Bill Murray como Deus!), escolher quem vai herdar seu império. Entre seus filhos, está Liesl, uma freira e, talvez, a única com alguma humanidade. Juntos, eles embarcam em uma missão para executar o “esquema fenício”, enfrentando traições, explosões e negociações secretas pelo mundo.

A fotografia de Robert Yeoman, com seus enquadramentos simétricos e movimentos de câmera teatrais, continua sendo um dos pontos altos. Há cenas que parecem ter saído diretamente de um catálogo de design de interiores vintage. Mas, quando a forma se sobrepõe ao conteúdo, fica difícil se conectar. As mortes são esteticamente belas, mas emocionalmente distantes. O drama é polido demais. E, no fim, é como assistir a bonecos sendo desmontados — você sabe que deveria sentir algo, mas não sente.


Há momentos em que o filme flerta com o espírito das aventuras pulp, e confesso que gostei quando isso acontecia. Tinha ali um potencial vibrante que se perdia sempre que o roteiro voltava a insistir em diálogos calculados demais e cenas que parecem paródias de outros filmes do próprio diretor.

Talvez o problema esteja justamente nisso: Wes Anderson se tornou uma marca. E como toda marca, começa a correr o risco de virar repetitiva. “O Esquema Fenício” é mais um exemplar dessa produção em série — impecável visualmente, mas emocionalmente estéril. O filme é bonito na prateleira, mas não tem alma. É como uma edição limitada de perfume que você já conhece: novo frasco, mesmo cheiro.

No fim das contas, “O Esquema Fenício” não é um filme ruim. É só mais do mesmo. O que, vindo de um diretor tão inventivo no passado, acaba sendo o maior desapontamento.


Confira o vídeo


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