Título no Brasil: A Grande Viagem da Sua Vida
Título Original: A bIg Bold Beautiful Journey
País: EUA
Ano: 2025
Direção: Kogonada
Roteiro: Seth Reis
Elenco: Margot Robbie, Collin Farrell, Kevin Kline
Nota: 3,5/5.0
Por Amanda Gomes
Por alguns instantes, “A Grande Viagem da Sua Vida” parece um filme fora do tempo. Enquanto Hollywood insiste em continuar presa às franquias infinitas e aos remakes pouco inspirados, o longa chega com uma proposta quase ingênua: um romance adulto com pitadas de fantasia, embalado por Margot Robbie e Colin Farrell. E, honestamente? É um risco delicioso de acompanhar, mesmo que não funcione o tempo todo.
A trama parte de uma premissa curiosa: David e Sarah se conhecem em um casamento e, por obra do acaso (ou de um carro mágico com GPS próprio), são levados a revisitar diferentes momentos do passado. Cada porta que se abre revela um trauma, uma memória não resolvida, uma oportunidade perdida. É como se o roteiro dissesse: “olha só, você pode encarar as feridas antigas e, quem sabe, encontrar alguém que tope segurá-las junto com você”.
Visualmente, o filme é um encanto. Com cenários que parecem cartões-postais e aqui mistura a sofisticação com uma teatralidade quase de palco vazio. Tudo é assumidamente artificial, desde o pôr do sol impossível até o sangue que parece lã. Esse jogo de artifício funciona como convite: não é sobre realismo, é sobre fábula. Só que nem sempre esse escapismo encontra o coração da história.
Robbie e Farrell entregam atuações delicadas, mas o casal não explode em química como o filme parece esperar. E isso pesa, já que o romance é o fio condutor da jornada. Ainda assim, a mensagem que fica tem um certo frescor: a felicidade plena talvez seja inalcançável, mas a vida pode ser feita de pequenos contentamentos, e se tivermos coragem de abrir espaço para o outro, essas frações de alegria podem se multiplicar.
O filme também conversa com um tema que atravessa muitos romances recentes: o peso da autocrítica feminina. Tanto Sarah quanto outras personagens femininas se descrevem como “horríveis” ou “monstruosas”, quando, na verdade, apenas se desviam do que a sociedade insiste em cobrar delas. Há um espelho cruel aqui: quantas vezes não nos percebemos assim, só por não cabermos no molde?
“A Grande Viagem da Sua Vida” não é perfeito, é previsível, doce até demais e por vezes se perde nas próprias excentricidades. Mas existe algo genuíno em sua fantasia açucarada, algo que acredita no amor, no acaso e até no poder de um GPS maluco. Kogonada nos lembra que a vida não precisa ser feliz o tempo todo para valer a pena. Basta aceitar os altos e baixos e, de preferência, ter alguém ao lado para dividir a bagagem.
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