quinta-feira, 31 de março de 2016

[Resenha] A Arte do Descaso @intrinseca

Título Original :A Arte do Descaso
Autora : Cristina Tardáguila
Editora Intrínseca
Número de págs: 188


Parece incrível que um roubo nessa dimensão não seja falado. Ah, sim há 10 anos atrás ele saiu no Jornal Nacional, e certamente algumas pessoas se preocuparam, mas não muitas, a ponto da investigação ser um verdadeiro fiasco e até hoje não terem recuperado nenhuma das obras ou prendido nenhum os ladrões. 
Certamente foi esse espanto de todos nós que começamos a ler o livro que a jornalista Cristina Tardáguila teve ao ver que o crime de arte no Brasil é pouco elucidado. Os ladrões nunca são presos, e isso inclui por exemplo artes sacras, que não são o caso dos roubos na Chácara do Céu - onde as peças foram levadas - mas que também só parece deixar marcas nas pessoas que amam e se interessam por arte. Pela nossa polícia parece um crime sem qualquer razão para se correr atrás dos suspeitos. 
Com uma série de erros, a autora nos descreve muito bem o como os ladrões tiveram grande facilidade em entrar no local, render as poucas pessoas que lá haviam e levarem em plena luz do dia os quadros que incluíam obras de Matisse, Monet, Salvador Dalí e Picasso. Incrível, não é mesmo? A Chácara fica em um local de difícil acesso, e em época de Carnaval o bloco das Carmelitas fecha a rua, impossibilitando a chegada de carros, o que só aí já dificultaria o trabalho da polícia ( e aqui abro um parêntese, são coisas assim que me fazem ter mais raiva desses blocos de rua que privam o direito de ir e vir da sociedade que não gosta deles, o direito dos foliões não pode atrapalhar a vida de quem não os curte) .
Impressiona em várias páginas ver que os bandidos nem sequer foram reconhecidos, o retrato falado nunca foi feito com os turistas que ali estavam no dia. Os seguranças pouco foram interrogados e boa parte deles não demonstrou muito interesse em ajudar a relembrar o caso quando a autora quis entrevista-los. A curadora do Museu, que estava à frente da casa há muitos anos, Vera de Alencar, chegou a ser apontada como suspeita porque nem sequer apareceu no Museu no dia, indo para uma festa com uma amiga, mas em seu depoimento talvez tenha ficado claro que essa foi a forma que ela encontrou para fugir de seus problemas, há os que duvidem de sua capacidade e da forma com que geria o museu, a chácara e as obras foram deixadas para o governo já que o dono não tinha herdeiros, Castro Mays morreu aos 74 anos e era além de um homem de posses, uma pessoa amante das artes. Sua casa era cheia de obras que em vida já dariam uma exposição. Teria morrido novamente se visse seu Picasso destruído como relatou um dos seguranças, de acordo com ele na fuga o menor de idade que fazia parte do grupo de ladrões deixou a obra despencar sobre uma pedra. Só de ler já me dá arrepios.
Um motorista de kombi chegou a ser preso, e realmente parecia fazer parte do roubo, no entanto, a falta de provas e os constantes erros da polícia em elucidar o caso o fizeram ser liberado.
A jornalista levantou uma série de erros na investigação que se mostram absurdos de não serem pensados antes por especialistas.
Parece e é surreal que obras que foram deixadas para apreciação pública tenham sido levadas tão facilmente e seu roubo tenha sido tão mal solucionado. Dez anos depois não sabemos o paradeiro dos quadros e muito menos de quem os levou. O livro é para ser devorado e questionado, que país é esse que não liga para seu acervo? Em outros países como na Argentina a autora dá exemplos de casos parecidos mas com os casos solucionados. Inclusive o roubo em nosso país, em 24 de fevereiro de 2006 foi listado como um dos 10 casos mais importantes de roubos de arte no mundo, o único país da América Latina a fazer parte da lista.
Para nossa tristeza e da autora, não temos muita esperança de que essas obras ainda voltarão para onde devem e seus ladrões estejam onde merecem: na cadeia.
Livro incrível, parabéns a jornalista por fazer voltar à tona algo que não deveria ser esquecido mas sim solucionado. 

4 comentários:

  1. Tive que pesquisar alguma coisa sobre esse "pegar" de tantas obras assim. Confesso que de memória, não me recordava de nada. Mas já viu alguma coisa ser levada a sério de verdade no Brasil? Dificilmente, ainda mais envolvendo obras de arte. Tantas igrejas tem seus acervos roubados e dificilmente recuperam alguma coisa. Não se dá muita atenção a crimes assim.
    Obras de artistas que nunca mais pintarão..deveriam ser guardadas a 9 chaves. E não ser prato cheio a bandidos.
    Me interessei muito pelo livro e lerei se possível!!
    Beijo

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  2. Ouvi falar desse livro, e me interessei em ler.
    Um absurdo como isso aconteceu, e mais absurdo ainda foi não ser solucionado!!!
    Quero ler!

    Beijos ^_^

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  3. É uma pena a falta de interesse em solucionar esse caso e encontrar os bandidos, fico bem triste com tudo isso, porque sabemos do valor dessas obras, e nem falo do valor financeiro, mas de valor cultural, da historia de cada peça...com certeza um excelente livro que quero ler!

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  4. Tema super bem colocado.A gente realmente acaba tapando os olhos para roubos de obra de arte.No máximo é falado no dia no jornal e depois acaba caindo no esquecimento.Precisamos de pessoas com coragem para não deixar ser esquecido.É crime e como tal precisa que seja corrido atrás e apurado e punir os culpados.
    Ótima iniciativa da autora em voltar a esse roubo e que fique de alerta para os nossos governantes!!
    Beijos!

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