terça-feira, 15 de outubro de 2019

Menina que via Filmes: A Luz no fim do mundo [Crítica]


Título Original:  Light of my Life
Título no Brasil: A luz no fim do mundo
Data de lançamento 17 de outubro de 2019 (1h 59min)
Direção: Casey Affleck
Elenco: Casey Affleck, Elisabeth Moss, Anna Pniowsky mais
Gêneros Drama, Ficção científica
Nacionalidade EUA
por Larissa Rumiantzeff




Pode conter revelações sobre o enredo

O filme começa com uma cena longa: pai e filha deitados, ele contando para ela uma história improvisada antes de dormir. A propósito, só descobrimos que se trata de uma menina ao longo da cena. Apesar de longa, essa cena é importante e dita o tom do filme. Em seguida, vemos que estão em uma barraca de acampamento. 
A ficção distópica “A luz no fim do mundo” é situada em uma época e local indefinidos nos Estados UNidos, e conta a história desse pai (Casey Affleck), cujo nome não sabemos, que vive recluso na floresta com a filha, Rag (Anna Pniowsky). Os dois levam uma vida nômade e levantam acampamento sempre que alguém se aproxima. Sabemos, aos poucos, da pandemia de uma peste que quase dizimou a população feminina. . Sabemos também que foi essa mesma pandemia que matou a sua mãe (Elisabeth Moss), mas que, por algum motivo, Rag é imune a esse vírus. Não sabemos o motivo, pois nem o pai sabe. E sabemos, ao longo da história, que algumas mulheres estão escondidas em bunkers pelo país. 

Esse pai, que permanece sem nome, vive constantemente com o pavor de, em meio a um mundo exclusivamente masculino, descobrirem a existência da meninaEm meio a esse cenário, o pai apresenta a menina, de cabelo curto e com roupas masculinas, como seu filho, Alex. O destino da menina se a encontrassem permanece em aberto. Assim como o pai, estamos diante da pior das hipóteses. 
Ocasionalmente, eles vão à cidade em busca de mantimentos. Não têm um objetivo nem um destino claro, apenas sobreviver e se esconder das pessoas. Em cada lugar que param, pegam o suficiente para sobreviver. Lembra um pouco o filme “Eu sou a lenda”, nesse sentido. Aqui, acho que os zumbis seriam mais bem-vindos. 
Falando assim, não parece um filme muito interessante. Mas é. 
Apesar de ter um ritmo mais lento, Affleck foca nos detalhes e nos diálogos para construir a narrativa. Nesse sentido, nota dez. Vemos a angústia da adolescente querendo ver outras mulheres como ela, tendo que se esconder em roupas masculinas quando ela queria usar uma jaqueta com estrelinhas e saia e lendo livros sobre diversos assuntos e ansiando pelo contato humano com outras pessoas. Temos um pai imperfeito, mas vemos na sua imperfeição a impotência diante de uma filha e de ter que protegê-la a qualquer custo. Independente da sua opinião sobre a pessoa Casey Affleck, como ator, diretor e roteirista, ele me vendeu essa relação muito bem.
Em questão técnica, Affleck fez um trabalho impecável junto a sua equipe. Além do roteiro, a fotografia de Adam Arkapaw torna o drama algo que deve ser degustado aos poucos. E funcionou. O uso dos flashbacks com parcimônia, nos apresentando a mãe da Rag e a relação do casal ao longo do filme, foi um recurso narrativo eficiente para apresentar a exposição e criar mais empatia com o pai. 
Ainda sobre a questão técnica, o roteirista transita com tranquilidade entre a direção, a atuação e o roteiro. Affleck não se preocupa muito com nos dar todas as informações, mas não deixa ponto sem nó. Destaque para a cena final, que deixa tudo arrematado. 
O que falar do elenco então? Deem um Oscar para Anna Pniowsky. Além da química dela com o ator que interpreta o pai, a menina atua com simplicidade, entregando, sem pretensão, uma personagem precoce pela força do contexto em que vive, obstinada e que é forçada a deixar a infância e a identidade para trás. Temos uma personagem que ao mesmo tempo precisa aprender a sobreviver na floresta, conviver com o medo de perder o pai, mas que fica fascinada diante de um quarto de brinquedos. 
Não vá ver o filme como uma ficção científica, nem espere um filme de ação. Trata-se de um drama distópico que usa a parte científica para contar a história do pai e da filha, mas que não foca nos pormenores da pandemia. Em certos aspectos, me remeteu ao pano de fundo de “compra-me um revólver”, outro filme que resenhei aqui. Felizmente, em “a luz no fim do mundo”, Casey Affleck não sacrificou a história pelos efeitos e alegorias. Eles estão presentes, só não te deixam com a sensação de que era um filme exclusivo para ganhar prêmios. Embora seja um forte candidato. 

Li várias resenhas e comentários antes de escrever esta, para me ajudar a pensar a respeito da história. Se trouxermos o filme para o contexto atual, o filme se torna uma distopia no nível de “O conto da Aia”. Foi brilhante a decisão de Affleck no sentido de evitar especificar a época. Pois já vivemos em um mundo em que é complicado ser mulher, em que estamos em meio a medidas que nos negligenciam e menosprezam. E como ser pai de uma menina nesse contexto. No fim, a necessidade dele em protegê-la de tudo e de todos é mais do que justificada. 
Não veja este filme se for procurando ação. Não veja se estiver procurando um filme com ritmo mais ágil. A música, o cenário e o ritmo podem causar um certo sono. 
Mesmo assim, é um filme muito bom para o que se propõe. Nos incomodar, fazer refletir e nos manter presos à tela até o final. 


5 comentários:

  1. Ah meu Deus!Já quero ver o quanto antes!Eu amo enredos assim, que deixam esse desconforto em quem o assiste. Esse amor incondicional do pai, a proteção, o medo, a vida cortada da menina, tão novinha.
    Ah, verei com toda a certeza do mundo!!!!
    Beijo

    ResponderExcluir
  2. Larissa!
    Não conhecia o filme e achei bem diferente e curiosa em poder assistir.
    Imagina uma menina viver em um mundo exclusivamente de homens por causa de uma pandemia que mata as mulheres e essa menina ser imune a isso.
    cheirinhos
    Rudy

    ResponderExcluir
  3. Oiii ❤ Essa premissa é ótima! Já de cara fiquei curiosa para saber como apenas as mulheres foram vítimas do vírus e porquê apenas Rag é imune à ele.
    Fico pensando em como deve ser para uma garotinha viver num mundo assim, não poder fazer as coisas que gosta, nem ter uma vida normal, fingir ser quem não é e não poder ter nem seus desejos mais sinples realizados.
    Achei muito inteligente a história conter flashbacks, pois assim fica muito mais fácil de compreender a trama.
    Adoraria assistir esse filme.
    Beijos ❤

    ResponderExcluir
  4. Parabéns pela resenha, fiquei super curiosa para assistir, gosto de distopias e essa q foge da ação e fica mais nas relações me deixou bem interessada

    ResponderExcluir
  5. Olá! ♡ Ainda não conhecia esse filme, mas depois de ler sua crítica quero muito!
    Fiquei curiosa para saber porque essa pandemia dizimou apenas as mulheres e não os homens também, e também porque Rag é imune ao vírus.
    Geralmente não sou muito fã de tramas lentas, mas quero muito conferir essa, parece muito interessante, a premissa chamou bastante minha atenção.
    Imagino a angústia de Rag, deve ser horrível ter que viver se escondendo e não poder se vestir a sua própria maneira.
    Muito obrigada pela indicação, com certeza vou querer assistir!
    Beijos! ♡

    ResponderExcluir

Sua opinião é muito importante para mim! Me diga o que achou dessa postagem e se quiser que eu visite seu blog, informe o abaixo de sua assinatura ;)