sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Menina que via Filmes: Aspirantes [Crítica]


Título Original: Aspirantes
Data de lançamento 28 de novembro de 2019 (1h 15min)
Direção: Ives Rosenfeld
Elenco: Ariclenes Barroso, Sérgio Malheiros, Karine Teles mais
Gênero Drama
Nacionalidade Brasil
por Larissa Rumiantzeff

O filme do qual eu vou falar hoje é do tipo soco no estômago. Assim como alguns outros longas que resenhei, este longa tem o diferencial de ter sido feito em 2012, porém, ao ser premiado em Portugal e no Brasil, mais especificamente, no Festival de cinema de São Paulo e no Festival do Rio, atraiu um interesse em exibi-lo.  Eu entendo bem o que é lutar por um projeto por tanto tempo, então aqui vai minha admiração e respeito pelo drama de estreia dirigido por Yves Rosenfeld. 
Júnior é um rapaz sozinho no mundo. Entrando na vida adulta, ele mora com um tio, com quem divide as despesas. De dia, joga futebol no Bacaxá FC. De noite, trabalha descarregando mercadorias em um depósito. Sua namorada está grávida e Júnior é pressionado a encontrar um emprego “de verdade” para ajudar a sustentar a criança. Por isso, quando seu melhor amigo, Bento, consegue ser escalado em um time do Rio, uma oportunidade que Júnior não teve e que está longe de ter agora, a inveja começa a crescer em seu peito e a corroê-lo por dentro, ameaçando a amizade e as suas relações. 

Trata-se de um drama com conflito interno e com um final inesperado. O protagonista é consumido por sua inveja, que, entubada, acaba por ameaçar suas relações com as pessoas mais importantes da sua vida, e o seu futuro. Não existe arrogância aqui, apenas o desgaste provocado pela comparação e frustração, agravado pelo fato de que ele nunca se expressa claramente. Ao longo do filme, suas frases vão se reduzindo, ele ouve broncas calado, responde com frases curtas ou passa a ignorar a namorada. 
Existem filmes que usam de N metáforas, alegorias e acabam pretensiosos. Roteiros imprecisos, falas que se prolongam, muita coisa é dita, pouca mostrada. 

Felizmente, este não é o caso de Aspirantes. Vemos o porquê de cada enquadramento, de um foco localizado, tudo tem um propósito claro. Em uma cena do trailer, os jogadores estão malhando na academia, quando olheiros chegam para conversar com Bento. Vemos as expressões de Júnior, afastado do amigo, que fica em segundo plano, embaçado com os demais. O isolamento de Júnior do mundo e das suas aspirações vai ficando mais explícito ao longo do drama. Não vemos o todo da cena, apenas suas expressões e reações ao que lhe acontece. Só para citar um exemplo de como esses recursos são bem utilizados. Palmas para o diretor e roteirista.
Não existem cenas para encher linguiça. O roteiro abusa dos silêncios desconfortáveis, fazendo com que prestemos atenção de verdade no que está sendo dito na falta das palavras. A sonoplastia e as iluminação ajudam a complementar a narrativa e a criar a tensão. 
Ao contrário de outros filmes em que não sabemos o que está acontecendo, com o pretexto de um ponto de vista limitado, neste filme, o que não vemos tanto é a reação dos demais. Temos as informações de que precisamos. Porém, o final fica em aberto, deixando as expectativas e especulações sobre o que aconteceria com Júnior a cargo do espectador. 
Um ponto bem interessante de “Aspirantes” é que, apesar de contado do ponto de vista de Júnior, todos os atores principais são complexos e têm pelo menos uma cena em que mostram a força da sua atuação. 
Foi uma surpresa agradável ver o trabalho do Sérgio Malheiros, que se tornou o queridinho do Brasil com o primeiro papel na televisão, o Raí de “Da cor do pecado”. Sérgio Malheiros mostra que continua trabalhando muito bem. O personagem Bento passa carisma. Sentimos e entendemos a inveja que Júnior tem dele, em cenas como quando Bento tenta repetidamente oferecer ajuda financeira por estar melhor naquele momento. Porém, é fácil entender o lado de Bento, confuso e magoado pela transformação do amigo.
 Julia Bernat, que interpreta Karine, a namorada de Júnior, também faz um trabalho impressionante. Julia, filha de Soraya Ravenle que atua desde a infância, fez Malhação 2010 e desde então vem emendando filmes bem-sucedidos, dentre eles o mais recente, Aquarius. Julia brilha como Karine, ao longo do filme, mas principalmente em uma cena emblemática no último ato. 
Karine Teles é outra que rouba todas as cenas onde está presente. Em “Que horas ela volta” a personagem da dona Bárbara causava ranço com seu comportamento, ora egoísta ora ridículo, culminando com o desabafo com o filho. Aqui, sua personagem, Sandra, é mais simpática, dando a Karine a oportunidade de mostrar todas as suas camadas ao longo do drama. Karine vai do humor ao drama, da mãe carinhosa e engraçada à preocupação e indignação com a imaturidade da filha. 
Mas é Ariclenes Barroso que arrepia. Sério, se eu estiver andando sozinha num beco escuro e ouvir passos atrás de mim, vou rezar para que seja o capeta, e não o Júnior. Esse xará de Lima Duarte traz no nome a força da atuação. Prova disso são os três filmes da mostra do Rio com seu nome entre os atores. Vemos em “Aspirantes” a transformação interna e externa do personagem ao longo do filme. 
“Aspirantes” ganhou o prêmio Carte Blanche no Festival de cinema de Locarno de 2014, Melhor Diretor, Melhor Ator e Atriz no Festival do Rio de 2015, Melhor Filme na 39ª Mostra Internacional de São Paulo e Melhor Roteiro e Montagem no 7º Festival Internacional da Fronteira. 
Talvez você esteja pensando que um filme premiado não seja emocionante. Prepare-se para se surpreender. “Aspirantes” pode agradar a fãs de futebol, mas também a fãs de filmes nacional, fãs de drama e fãs de filmes do tipo soco no estômago. Não encontrei a classificação indicativa, mas imagino que seja de 12 anos, pela linguagem e pelo tema. 
Aspirantes não vai para o circuito geral, pelo menos a princípio. Porém, estreia HOJE, dia 28 de novembro, e estará em cinemas selecionados pelo país, dentre eles o Espaço Itaú de Cinema, em várias cidades, e o Cine Arte Uff, em Niterói. Mas corra que é por tempo limitado!

Cinco claquetes por falta de mais. Já quero ver de novo. 


2 comentários:

  1. Engraçado que só aprendi a olhar o cinema nacional depois que conheci a Raffa e seu trabalho aqui..rs
    Antes era muito preconceituosa sim e não mudei totalmente, mas admito que ando vendo muita coisa indicada e tenho tirado o chapéu sim!!!
    Ainda não sabia nada sobre este lançamento,mas claro que já fiquei super animada. Apesar de futebol não ser meu forte, amo filmes "soco no estômago", pelo desconforto que causa.
    Sei que não deve chegar aqui no fim do mundo, mas com certeza assim que tiver uma oportunidade, verei!!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor

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  2. Lrissa!
    O filme não entrou no circuito por aqui, acredito que apenas nas grandes capitais.
    Na verdade é um filme de muitos questionamentos, entendimento e oportunidades, né?
    cheirinhos
    Rudy

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