terça-feira, 5 de novembro de 2019

Menina que via Filmes: Cadê você, Bernadette? [Crítica]

Título original: Where ‘d you go, Bernadette?
Autora do livro: Maria Semple
Roteiro: Richard Linklater
Direção: Richard Linklater
Distribuidora: Imagem Filmes
Elenco: Cate Blanchett, Kate Burton, Billy Crudup, Kristen Wiig, Judy Greer, Laurence Fishburne, Emma Nelson, Zoe Chao, James Urbaniak, Troian Bellisario, Steve Zahn, Megan Mullally, Jóhannes Haukur Jóhannesson, Kate Easton, Richard Robichaux.
Data de lançamento no Brasil: 7 de novembro de 2019
#224
por Larissa Rumiantzeff

Pode conter revelações sobre o enredo

Certa vez, em uma aula de inglês, um professor passou para a turma uma história de uma pesquisadora que virou cuidadora de Gorilas, e que isso era sua paixão. Em suas palavras, era a sua canção. Na formatura do curso, o professor me disse para ouvir a minha canção. Eu ainda não trabalhava com escrita, estava bem longe de publicar meu livro, que já estava escrito, mas na gaveta, e estava frustrada profissionalmente, assim como a protagonista do filme de hoje. 
Bernadette Fox é agorafóbica, sofre de ansiedade e insônia, mas nem sempre foi assim. Há 20 anos, ela foi uma arquiteta revelação nos Estados Unidos, ganhadora inclusive de bolsas de incentivo do calibre da McArthur. Ela também era notável, dona de uma personalidade incrível, engraçada e criativa. Porém, isso ficou no passado: após um incidente traumático, ela se muda da Califórnia para a chuvosa cidade de Seattle, onde estabeleceu família, mas nunca ficou totalmente feliz. Atualmente, a única criação de que tem mais orgulho é a sua filha, Bee. O resto da sua vida está um caos: o casamento está em crise, ela é uma dona de casa frustrada, os vizinhos não a suportam, e ela não faz questão de agradá-los. Seu nível de ansiedade social é tamanho que ela tem uma assistente pessoal virtual, Panjula, para quem envia e-mails solicitando o que precisa. A casa malcuidada reflete bem o estado de espírito da dona: majestosa em outra era, porém caótica e sem vida. 
Para piorar, Bee cobra um presente de formatura do ensino fundamental: uma viagem para a Antártica em família. A iminência da viagem engatilha os sintomas de Bernadette, que antevê os piores cenários possíveis. 
Após uma conversa com seu antigo mentor, Paul Jellinek, somada a uma intervenção promovida pelo marido após um incidente desastroso colocar em risco a família, Bernadette se dá conta que se tornou um perigo para a sociedade e some no mundo. 
A adaptação do livro de Maria Semple publicado em 2012 é divertida, emocionante e nos prende na tela até os créditos finais. Eu estava ansiosíssima para assisti-la, e não me decepcionei. O filme discute várias questões delicadas, como saúde mental, a figura da mãe, relações, o perigo de uma vida sem realização, e a necessidade que temos de escapar no mundo. Me lembrou muito do romance de Gayle Forman, “Quando eu parti”. 
A narração da história fica por conta da filha, Bee, possibilitando um olhar doce, em contraste com a personalidade ácida de Bernadette. 
Temos aqui um mote parecido com o de muitos outros: uma mulher que some no mundo. Porém, o foco aqui é na família que ela deixa para trás, principalmente na filha, que acredita nela e a procura sem descanso. 
Porém, em um artifício interessante, a exposição da história da protagonista é feita por um documentário assistido pelos personagens em diferentes momentos. Isso foi essencial para que soubéssemos do que os demais personagens sabem, sem prejudicar o ritmo. Ponto para o roteirista e diretor, Richard Linklater. Para quem não conhece, o diretor é o mesmo de Boyhood. Apesar de não ser super fã do filme Boyhood (não gostei mesmo), impossível não reconhecer sua visão, já amadurecida aqui. 
“Cadê você, Bernadette” conta com um elenco de peso. Cate Blanchett é uma das minhas atrizes preferidas desde Blue Jasmine, e estou convencida de que pode fazer qualquer papel. Aqui, ela nos deixa nervosos com a dimensão dos problemas de Bernadette, e esperançosos de que encontrará a solução para eles. Cada um dos atores escalados faz um trabalho incrível: a família de Bernadette Fox, composta por Elgie e Bee, interpretados por Billy Crudup e a estreante Emma Nelson, nos faz torcer por eles. Aos olhos da esposa e até da filha, o marido se tornou um homem viciado no trabalho, que negligenciou a família. Porém, é possível ver o lado dele, e se comover com o homem que não sabe o que fazer quando a esposa se transforma em uma reclusa que se recusa a fazer terapia. Em suma, não está fácil para ninguém. 
Outros nomes conhecidos no elenco são Judy Greer, Kristen Wiig, responsável pelas melhores cenas de humor, e Laurence Fishburne, no papel do mentor de Bernadette. E, claro, Kate Burton, conhecida dos fãs de Grey’s Anatomy como a eterna (e intimidadora) Ellis Grey. 
O longa tem um errinho de continuidade, mas nada que comprometa a experiência do espectador. E tem a questão do trailer, que vende uma história bem diferente da que vemos. No trailer, entendemos que a história começa quando ela foge, assim como no livro e que focará no seu novo trabalho na Antártica, em meio a privação de sono e vários perrengues. Aqui, a história da Bernadette é contada até o momento em que ela encontra a estação de pesquisa. Este não é o tipo de filme que tem cenas pós crédito, mas uma parte da história é contada nesse momento. Não saiam da sala ainda. O final é fofinho demais. 
Recomendo esse filme para todos os públicos. Com certeza, é um filme família que diverte e emociona, dependendo do seu estado de espírito e momento que esteja vivendo. O efeito que teve em mim foi o da história da tratadora de gorilas. Então indico principalmente para quem esteja se sentindo meio perdido na vida, como uma fonte de conforto e distração. Serviu para me lembrar de escrever mais. 
E não se esqueçam de procurar a sua canção. 


Confiram a crítica em vídeo a Raffa Fustagno


3 comentários:

  1. Adoro filmes familiares, aliás, filmes que traga conflitos familiares e esse buscar a felicidade a todo custo.
    Gostei de ler que o foco fica na família que é deixada, em quem ficou para trás e não necessariamente em quem partiu.
    Adorei saber sobre os gorilas também.rs
    E com certeza, é um filme que verei assim que puder!!!
    Beijo

    Rubro Rosa/O Vazio na Flor

    ResponderExcluir
  2. Larissa!
    Filmes que trazem a temática familiar, misturados com um certo drama e alum problema psicológicos, são sempre atrativos aos meus olhos, ainda mais com tantos ensinamentos no final.
    Temos mesmo de aproveitar mais a vida, amar e escrever mais e mais...
    Quero assistir.
    cheirinhos
    Rudy

    ResponderExcluir
  3. O título e o cartaz não me eram muito desconhecidos, vi esse livro por aí, mas nunca parei para ler... Achei interessante essa forma de mostrar a história da protagonista para os outros personagens em formato de documentário. Fiquei curiosa para assistir

    ResponderExcluir

Sua opinião é muito importante para mim! Me diga o que achou dessa postagem e se quiser que eu visite seu blog, informe o abaixo de sua assinatura ;)