domingo, 17 de novembro de 2019

Menina que via Filmes: Um dia de chuva em Nova York [Crítica]


Título em inglês: A rainy day in New York
Título em português: Um dia de Chuva em Nova York
Roteiro: Woody Allen
Direção: Woody Allen
Distribuidora: Imagem Filmes 
Elenco: Timothée Chalamet, Elle Fanning, Selena Gomez, Jude Law, Liev Schreiber, Diego Luna, Annaleigh Ashford, Rebecca Hall, Cherry Jones, Will Rogers (II), Kelly Rohrbach, Suki Waterhouse, Griffin Newman, Natasha Romanova
Data de estreia no Brasil: 21 de novembro de 2019
por Larissa Rumiantzeff

Filme mais recente do Woody Allen mostra sinais de exaustão

Quando se pensa no nome Woody Allen, raramente há um meio termo: ou se ama ou se odeia o trabalho do cineasta. Também é difícil desvincular seu nome de escândalos. À luz do movimento #metoo, as acusações mais recentes de assédio contra ele comprometeram inclusive a distribuição de seu filme mais recente. O lançamento de “Um dia de chuva em Nova York” acontecerá primeiro em escala mundial, sem previsão de estreia nos Estados Unidos. O que talvez nem seja uma grande perda, considerando o produto.  

Eu sou uma das pessoas que não é nem fã, nem odeia o trabalho do cineasta. Admito que, pelo trailer, fiquei com vontade de assistir “Um dia de chuva em Nova York”. Em tese, minha expectativa nem era alta, mas eu consegui me decepcionar. Em vários níveis. 
Um jovem casal, Gatsby Welles (sério, produção?) e Ashleigh, interpretados por Timothée Chalamet e Elle Fanning, vai passar o fim de semana em Nova York. Ele é um universitário que já trancou a matrícula e não tem planos sérios para o futuro, apostando as fichas literalmente nas mesas de jogos. Ele acaba de ganhar uma bolada em apostas. A moça, uma estudante de jornalismo, acaba de conseguir a oportunidade de entrevistar um figurão do cinema, e o namorado tem a ideia de conhecerem juntos a cidade natal dele. Contudo, Gatsby precisa evitar que os pais saibam, pois sente que encorajam o relacionamento simplesmente porque a namorada é rica e vão querer que compareçam a uma festa que promovem. 
O que se segue é uma sucessão de coincidências aleatórias, acontecimentos absurdos e obstáculos que os impedem de cumprir o objetivo. Dentre eles, a chuva que começa a cair. 
Para começar, a moça do Arizona se mete em uma crise criativa do gênio Rolland Pollard (Liev Schreiber). Em seguida, os acontecimentos do dia se emaranham com os problemas do roteirista (Jude Law). Por último, Ashleigh se envolve com um dos atores, o astro Francisco Vega (Diego Luna). Isso não é spoiler, está tudo no trailer. E, pasmem, todos se apaixonam por ela. Eu ouvi um bocejo? 
Gatsby Welles, por sua vez, amuado com os constantes perdidos que a namorada está dando, porque, afinal, ela está em Nova York a trabalho, acaba aceitando um convite para participar do filme de um ex colega de turma. Isso o reaproxima de Shannon, ou Chan (Selena Gomez), a irmã caçula de uma ex-namorada. Os dois acabam conversando e descobrindo que têm mais em comum do que imaginavam. Mas então, Gatsby precisa visitar o irmão. Em seguida, um encontro por coincidência em um museu o obriga a aparecer na tal festa de família, afinal. O próximo passo é conseguir que uma prostituta se passe pela famosa Ashleigh, porque tudo indica que o relacionamento foi para o saco. 
Realmente, o título faz juz ao filme. Porque só uma chuva muito forte para impedir que estrelas do calibre de jude law, Liev Schreiber, e Timothée Chalamet não brilhem como deveriam. Ou, talvez, seja culpa da neblina causada pela poluição. De repente, é uma dessas enchentes que caem arrastando tudo, inclusive a inspiração do roteirista. 

Em se tratando de um filme de Woody Allen, eu esperava pelo menos duas coisas: diálogos e piadas inteligentes. Nem sempre tem ação. Mas o humor costuma estar lá, nas situações e nos detalhes. Não é o que acontece aqui. 
Um dos grandes problemas do longa, na minha opinião, é o roteiro acomodado, excessivamente explicativo e sem originalidade. A criação dos personagens me pareceu forçada e sem consistência. Para se ter uma ideia, Woody Allen comete erros de principiante, explicando, e não mostrando. O Gatsby, por exemplo, é mais uma versão do cineasta, verborrágico, chato e neurótico. Nada acontece para nos manter presos à tela. Pra piorar, a impressão que se tem é que foi uma escolha deliberada. O resultado é uma declaração de amor desajeitada e pretensiosa a Nova York, tendo como pano de fundo a o romance. 
Elle Fanning, que tem um ar hiperativo e alegre nos filmes em que participa, estava beirando a histeria. Nenhuma das suas ações da Ashleigh tem motivação clara ou coerente. Timothée Chalamet também não ficou atrás. Porém, não dá pra saber se foi um problema da direção ou dos atores. Chalamet é conhecido por ser um ator premiado, tendo sido escalado em vários filmes aclamados pela crítica e/ou aguardados. Falo de “Adoráveis mulheres”, onde ele interpretará Laurie, ou de “Me chame pelo seu nome”, que alçou seu nome ao estrelato. Aqui, ele se assemelha a uma criança barulhenta sentada na mesa dos adultos. Jude Law simplesmente não atuou. 
A escolha de piadas também é forçada e infeliz, repleta de estereótipos. A piada recorrente do longa era a risada estridente de uma das personagens. 
Para não dizer que tudo foi ruim, Selena Gomez, conhecida por “Os feiticeiros de Waverly Place” e outros filmes da Disney, além da carreira como produtora e cantora, mostrou que não é só um rosto bonito. A atuação dela foi tão simples, porém tão agradável e sincera, e a química entre ela e Timothée Chalamet era tamanha que sem dúvidas favoreceu todas as cenas em que Gatsby e Shannon estavam presentes. Ficou fácil torcer para a personagem. E Gatsby se tornou menos detestável e pretensioso. 
Outro aspecto que valeu a pena foi a cena entre Gatsby e a mãe (Cherry Jones), que justificou um pouco a interação problemática entre mãe e filho, ao mesmo tempo que os aproxima e traz um pouco de esperança para o futuro dos dois. 
Como eu disse, o filme é insosso. Não consigo nem recomendar para fãs de Woody Allen. Opiniões pessoais a parte, o cineasta já fez filmes bem melhores. Sinto até saudades da cena do cantor no chuveiro, de “Para Roma, com amor”. Talvez a experiência seja pior para os admiradores. 
Parece até que a crise criativa do Rolland Pollard é um espelho do próprio Woody Allen, e as críticas feitas a ele sejam uma espécie de auto-alfinetada. Só isso justificaria. 
Eu dou duas claquetes, porque Selena Gomez e Timothée Chalamet quase salvaram o longa. 


Veja a opinião bem diferente de Raffa Fustagno em vídeo 



3 comentários:

  1. Larissa!
    Tem filmes do Woody Alen que gosto muito, porém tem outros que não consegui assistir até o final, talvez esse, apesar de atores que gosto muito, seja um desses filmes que talvez não goste tanto.
    cheirinhos
    Rudy

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  2. Então...
    Alen é realmente este tipo de diretor que causa sentimentos controversos em muitos de nós!
    Eu não sei ao certo se gosto, se desgosto..acho que sou meio indiferente, apesar de tirar o chapéu para os diálogos que ele sempre coloca em seus filmes de uma forma gostosa.
    Ainda não tinha visto ou lido nada a respeito deste filme e mesmo com tantos "defeitinhos" eu sei que vou acabar vendo.rs e reclamando depois!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor

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  3. Eu sou daquelas que não consegue separar muito o pessoal do profissional, então já fico bem de nariz torcido... Mas esse filme tá parecendo bem bomba, fora que nem vi muita gente falando dele por aí...

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