quinta-feira, 26 de junho de 2025

MEGAN 2.0 [Crítica]

 


Título Original: MEGAN  2.0

Ano: 2025 

País: Estados Unidos

Direção: Gerard Johnstone

Roteiro: Gerard Johnstone

Elenco: Amie Donald, Allison Williams, Violet McGraw, Brian Jordan Alvarez, Jen Van Epps

Nota: 5/5

Confesso que fui ao cinema com o coração já meio entregue. Eu amei o primeiro M3GAN. De verdade. Achei um filme inteligente, provocador, e mais engraçado e ácido do que assustador. Uma comédia de crítica social disfarçada de terror, que ria da nossa obsessão por tecnologia e da forma como transferimos vínculos emocionais para dispositivos com Wi-Fi. Era exatamente o tipo de filme que, mesmo brincando com o absurdo, fazia a gente pensar e rir, muito.

Por isso, ver M3GAN 2.0 se distanciar ainda mais do terror e abraçar sem pudor a ação, o sci-fi e até a espionagem foi, no mínimo, inesperado. Mas, curiosamente, essa mudança radical de tom não só funciona como amplia o que o primeiro filme já fazia tão bem: nos diverte com uma crítica mordaz ao nosso futuro (cada vez menos) distópico.

Dois anos depois do massacre inicial, reencontramos Gemma em uma nova fase. Sobrevivente de uma criação que literalmente ganhou vida própria, ela agora usa sua experiência para defender regulamentações mais rígidas sobre inteligências artificiais. Ao seu lado, a sobrinha Cady, agora entrando na adolescência, demonstra um interesse crescente por robôs e pela tecnologia o que reacende os traumas, e dilemas éticos, de Gemma. Só que, como toda boa sequência precisa de um novo vilão, surge AMELIA, uma IA rebelde derivada dos códigos originais da M3GAN, mas com ambições globais e poder suficiente para iniciar um colapso civilizacional.

É nesse cenário que M3GAN retorna, agora mais elegante, afiada e debochada do que nunca. Reprogramada para combater sua própria “irmã”, ela vira uma espécie de anti-heroína que parece saída diretamente de um filme de espionagem estilizado, com direito a figurinos impecáveis, lutas coreografadas com perfeição e gadgets que fariam James Bond levantar uma sobrancelha.

A direção de Gerard Johnstone parece plenamente consciente de que a melhor forma de continuar essa história é não levá-la a sério demais. E é exatamente esse auto-entendimento que torna o filme tão irresistível. M3GAN 2.0 não tenta ser um tratado sobre inteligência artificial. Ele sabe que o exagero é seu maior trunfo e aposta alto nisso, entregando momentos que beiram o sublime de tão absurdos (em especial uma sequência envolvendo várias M3GANs e This Woman’s Work, da Kate Bush, que já entrou para minha lista de cenas favoritas do ano).

Mas, apesar da estética quase “trash deluxe”, o roteiro não é vazio. Entre uma piada afiada e outra, há observações pertinentes sobre ética tecnológica, responsabilidade afetiva e até as fragilidades das relações humanas em tempos de conexão constante e desconexão emocional.

O elenco também segura bem o tom entre o nonsense e o drama. Allison Williams entrega uma performance gelada, milimetricamente contida, quase robótica o que, curiosamente, faz sentido dentro da narrativa. Já Violet McGraw cresce em tela, mostrando que Cady é mais do que uma criança traumatizada: ela é uma adolescente que observa, aprende e, talvez, compreenda as máquinas melhor do que os adultos ao seu redor.


A boneca assassina ganha ainda mais camadas nesta versão 2.0, agora menos vilã e mais protagonista de ação algo entre Sarah Connor e Barbie futurista com tendências homicidas.

Claro que o filme não é perfeito. A expansão do universo traz um excesso de termos técnicos, reviravoltas e conceitos que, em certos momentos, parecem querer justificar demais uma trama que poderia apenas se divertir com a própria loucura. Ainda assim, M3GAN 2.0 nunca perde o foco: ser entretenimento de qualidade, com inteligência e sem vergonha de rir de si mesmo.

No fim das contas, essa sequência não apenas mantém o nível do original, ela o eleva em estilo e confiança. É como se dissesse: “Sim, nós sabemos que isso tudo é absurdo. Mas olha como é divertido.” E é. Muito.

Se o terror do futuro for feito com esse tipo de ironia, personalidade e coragem estética, que venham mais versões.

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