quinta-feira, 19 de junho de 2025

Elio [Crítica]

 


Título Original: Elio

Ano: 2025 

Direção: Madeline Sharafian, Domee Shi, Adrian Molina

Elenco: Yonas Kibreab, Zoe Saldana, Jameela Jamil

Nota: 4/5

Por Amanda Gomes 

Há algo de profundamente humano na pergunta que abre Elio, nova animação da Pixar: será que estamos realmente sozinhos no universo? Mas, mais do que levantar questões sobre vida extraterrestre, o filme nos convida a olhar para dentro, para nossas dores, nossas perdas e nossa busca incessante por pertencimento.

Foi com esse olhar que entrei na sala de cinema, sem grandes expectativas, e fui surpreendida por uma narrativa delicada e visualmente deslumbrante que, ainda que siga fórmulas já conhecidas do estúdio, encontra seu valor na sinceridade com que trata temas como solidão, identidade e afeto.

Elio Solis, nosso protagonista, é um menino de 11 anos que perdeu recentemente os pais e agora vive com sua tia Olga, uma mulher rígida e um tanto perdida em sua nova função de cuidadora. Enquanto ela se apega à disciplina militar para tentar manter o controle da vida, Elio se refugia na imaginação. Fascinado pelo espaço, ele sonha em ser abduzido, não porque quer fugir do planeta em si, mas porque acredita que em algum canto do universo, alguém possa realmente entendê-lo.

Essa angústia de não se sentir parte de lugar nenhum é o motor da história, e algo com que me conectei imediatamente. Quem nunca se sentiu deslocado, invisível, como se tivesse sido feito para viver em outro planeta?

A premissa fantástica se desenrola quando Elio, por engano, é levado para o Comuniverso, uma assembleia intergaláctica onde seres de diferentes galáxias se reúnem para decidir os rumos da paz universal. Lá, ele é confundido com o embaixador da Terra e precisa se virar entre alianças alienígenas, protocolos interplanetários e um senhor da guerra temperamental que quer seu lugar à força.

Apesar da grandiosidade cósmica do cenário, o filme é, essencialmente, uma história íntima sobre o amadurecimento. E é exatamente isso que me tocou: Elio não tenta ser a animação mais engraçada, nem a mais ousada, mas se compromete com o que quer contar. E isso, para mim, tem muito valor.

A amizade entre Elio e Glordon, o filho gentil e sensível do “Imperador Sangrento” Grigon, é uma das surpresas mais doces da trama. Juntos, os dois representam crianças que não se encaixam nos moldes esperados e tentam, à sua maneira, encontrar um espaço para existir com autenticidade. As interações entre os dois são sinceras, leves, e trazem aquela ternura típica das melhores amizades infantis que nascem no meio do caos.

Visualmente, o filme é um espetáculo, e disso a Pixar entende como ninguém. O uso do novo software Luna para trabalhar luz e coloração traz ao Comuniverso um brilho onírico e texturas que parecem saídas de uma galeria futurista. Ainda assim, há uma sensação de déjà-vu em muitos designs e soluções visuais. Nada ali parece exatamente novo, mas isso não atrapalha a experiência, apenas reforça que o filme aposta mais no emocional do que na inovação estética.

Um dos aspectos que mais me encantou foi o cuidado com os momentos de silêncio e contemplação. Em uma cena, Elio observa o espaço através de uma janela da nave enquanto ecoa, em sua mente, a frase: “Existem 500 milhões de planetas habitáveis por aí. Um deles precisa me querer.” É poético, é triste, e é profundamente verdadeiro. Porque quem nunca quis simplesmente ser aceito?

Elio é também sobre relações familiares imperfeitas. Olga e Elio estão perdidos um no outro, tentando ser uma família sem saber como. A forma como o filme constrói esse laço aos poucos, com tropeços, teimosia e muito afeto implícito, é bonita demais. Há uma frase em especial que me marcou: “Talvez eu não te entenda, mas eu te amo.” Poucas coisas são tão poderosas quanto amar alguém mesmo sem compreendê-lo por completo.


Apesar da sensibilidade, Elio tem seus tropeços. A narrativa poderia ousar mais nas possibilidades da ficção científica. Vemos uma infinidade de criaturas alienígenas e referências sutis a clássicos do gênero, mas tudo isso passa rápido demais. As oportunidades de desenvolver mundos e culturas diferentes acabam sendo sacrificadas em prol de um ritmo mais acelerado e acessível. Para um filme que se propõe a explorar o universo, talvez ele seja um pouco tímido em sua expansão.

Ainda assim, a jornada emocional compensa. Elio se alinha à tradição da Pixar de contar histórias sobre perdas, reconexões e descobertas internas. Não chega a ter o mesmo impacto de Viva, Up ou Divertida Mente, mas guarda a mesma alma. É um filme que fala com crianças, mas que conforta adultos. Principalmente aqueles que, em algum momento, se sentiram fora do lugar.

No final, Elio nos lembra que o mais importante não é encontrar vida em outro planeta, mas encontrar alguém  aqui ou em qualquer lugar  disposto a nos enxergar de verdade.

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