Título no Brasil: O Ritual
Título Original: The Ritual
País: Estados Unidos
Direção: David Midell
Roteiro: David Midell, Enrico Natale
Elenco: Al Pacino, Dan Stevens, Ashley Greene
Nota: 4
Por Amanda Gomes
Se você, assim como eu, não cresceu assistindo a longas de possessão demoníaca ou acompanhando os clássicos do terror religioso, “O Ritual” pode parecer uma experiência nova e até promissora. Mas basta alguns minutos de exibição para perceber que estamos diante de algo bastante familiar. Dirigido por David Midell, o filme mergulha no famoso caso de Emma Schmidt, uma jovem católica supostamente possuída em 1928, trazendo à tona todos os elementos que o gênero construiu ao longo das décadas: o quarto escuro, a voz gutural, o padre em crise e os limites entre fé e loucura.
A história acompanha o experiente Padre Theophilus Riesinger, que viaja até a pacata cidade de Earling, Iowa, para realizar um exorcismo ao lado do jovem e cético Joseph Steiger. Emma está no centro de manifestações sobrenaturais crescentes, e o filme se desenrola durante os 23 dias de tentativas desesperadas para livrá-la de demônios como Belzebu e Judas Iscariotes.
Mesmo sem ser uma entusiasta do gênero, é possível perceber o cuidado estético da produção. A fotografia escura cria uma ambientação sufocante e, em alguns momentos, belamente simbólica. Já o trabalho de som, constrói tensão através de ruídos incômodos e distorções vocais que, embora previsíveis, ainda são eficazes para envolver o espectador.
Mas talvez o maior mérito de “O Ritual” esteja em como ele trata a fé, não apenas como pano de fundo, mas como parte vital da construção dos personagens. Ao longo da narrativa, o que se desenha não é apenas um embate entre o bem e o mal, mas entre a racionalidade e a crença. Steiger, traumatizado por perdas pessoais, representa esse olhar contemporâneo, mais cético, e sua jornada de transformação é, talvez, a mais interessante do longa.
O roteiro, no entanto, caminha com certa segurança demais. Mesmo inspirado em um caso real impressionante o filme parece hesitar em trazer algo novo à mesa. Ele respeita o legado dos clássicos, mas pouco arrisca. Para quem, como eu, está descobrindo esse tipo de narrativa agora, pode haver momentos de fascínio. Mas também é possível sentir uma repetição de fórmulas já desgastadas.
Abigail Cowen entrega uma performance intensa, oscilando entre vulnerabilidade e violência com competência. Dan Stevens cumpre bem seu papel, mesmo que o roteiro não explore todo o potencial de seu personagem. Já Al Pacino, mesmo em um papel discreto, ainda impõe uma presença marcante, que dá densidade a cenas que, de outra forma, poderiam soar vazias.
“O Ritual” não revoluciona, mas também não decepciona. Funciona como uma introdução cuidadosa ao universo dos exorcismos no cinema, especialmente para quem, como eu, ainda está desbravando esses territórios. Ao final, fica a reflexão sobre como a fé, mesmo nos tempos mais modernos e céticos, continua sendo uma lente poderosa para entender nossas dores, angústias e o desejo constante de cura.
Se você está em busca de uma experiência densa e aterrorizante, talvez esse não seja o filme mais ousado da temporada. Mas se está disposta a encarar um terror mais introspectivo, ainda que familiar, “O Ritual” pode te surpreender ou, ao menos, deixar aquela pulga atrás da orelha sobre o que, afinal, mora entre o sagrado e o inexplicável.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é muito importante para mim! Me diga o que achou dessa postagem e se quiser que eu visite seu blog, informe o abaixo de sua assinatura ;)