quinta-feira, 4 de setembro de 2025

A vida de Chuck [Crítica]

 


Título no Brasil: A Vida de Chuck

Título Original: The Life Of Chuck

Ano: 2025

Direção: Mike Flanagan

Roteiro: Mike Flanagan

Elenco: Tom Hiddleston, Mark Hamill, Chiwetel Ejiofor

Nota: 4,5/5.0

Por Amanda Gomes 


Quem diria que Stephen King, mestre do horror, nos entregaria uma história tão delicada e melancólica? “A Vida de Chuck”, adaptada por Mike Flanagan do conto presente em “Com Sangue", não é sobre monstros escondidos no armário, mas sobre o maior susto de todos: a finitude da vida.


O filme começa onde, normalmente, tudo terminaria: no apocalipse. A internet está prestes a sumir, a Califórnia já não existe e a sociedade parece se dissolver em silêncio. Em meio a esse cenário, anúncios enigmáticos agradecem a um homem comum, Charles Krantz, pelos seus 39 anos de vida. A partir daí, Flanagan inverte o relógio e nos conduz de trás para frente, reconstruindo a vida de Chuck como quem recolhe pedaços de memória espalhados.


Essa narrativa reversa poderia soar como truque, mas aqui funciona como essência. Ao conhecermos primeiro a morte e depois os pequenos momentos que compõem a vida de Chuck, o filme transforma banalidades em preciosidades. Um simples passo de dança no meio da rua, uma lembrança de infância, uma conversa familiar,  tudo ganha a intensidade de quem já sabe que o fim está próximo.


Hiddleston entrega uma atuação contida, mas profundamente emotiva. Sua versão de Chuck é de uma humanidade palpável, especialmente em uma cena de dança que se torna um dos pontos altos do longa, quase como um hino à alegria efêmera. O elenco de apoio, com nomes como Mark Hamill e Matthew Lillard, reforça essa dimensão humana sem deixar o filme escorregar para o sentimentalismo barato.


Visualmente, Flanagan mantém sua marca: sombras densas, luz suave e uma fotografia que transita entre o calor da memória e o frio da despedida. A montagem cuidadosa reforça o sentido de regressão, costurando a vida de Chuck como um mosaico onde dor e ternura convivem.


O risco de soar melodramático é real, mas Flanagan, assim como King, abraça essa sensibilidade de peito aberto. No fim, A Vida de Chuck não é sobre o fim do mundo, é sobre como cada um de nós é, ao mesmo tempo, um universo inteiro e um instante passageiro.


É raro sair do cinema com a sensação de ter visto algo tão intimista em meio a tantas produções barulhentas. Esse filme não grita; ele sussurra. E, talvez por isso, ecoe ainda mais fundo.

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