sábado, 11 de outubro de 2025

Depois da Caçada [Crítica ] Festival do Rio 2025


 Título no Brasil: Depois da Caçada

Título Original: After The Hunt

Ano: 2025

País EUA

Direção: Lucas Guadagnino

Roteiro: Nora Garrett

Elenco: Julia Roberts. Ayo Edebiri, Andrew Garfield

Nota: 2/5

Por Amanda Gomes 

Luca Guadagnino é, sem dúvida, um dos diretores mais interessantes da atualidade. Ele sempre tenta mergulhar em temas sociais com uma estética elegante, misturando desejo, moral e desconforto de um jeito muito próprio. Mas em “Depois da Caçada”, parece que esse mergulho foi fundo demais, a ponto de o filme se afogar nas próprias ideias.

A trama gira em torno de Alma, uma professora renomada da Universidade de Yale que vê sua carreira e sua reputação ameaçadas quando uma aluna de doutorado, Maggie, acusa outro professor de conduta imprópria. Casada com Frederick,, Alma se vê presa entre a ética acadêmica, as lealdades pessoais e um segredo do passado que ameaça vir à tona.

No papel, a proposta é ótima: discutir moral, cancelamento, poder e os limites da verdade dentro de um ambiente elitista e patriarcal. Na prática, o filme entrega um roteiro denso e diálogos tão carregados de referências filosóficas que às vezes mais afastam do que convidam o espectador. É como se Guadagnino tivesse tentado transformar um debate de seminário em drama psicológico.

Os primeiros minutos já dão o tom do que vem pela frente: longas conversas que beiram o enfadonho, personagens que demoram a mostrar suas camadas e um ritmo que pede paciência. A sensação é de estar assistindo a uma tese filmada, e não a uma história viva.

Curiosamente, o único personagem que parece respirar é Frederick, o marido da protagonista. Michael Stuhlbarg é magnético, com um humor ácido e uma presença quase irônica que quebram a rigidez das cenas. Ele transita entre o cômico e o trágico com naturalidade, e suas idas e vindas pela cozinha acabam sendo mais provocativas do que muito do texto filosófico do filme.

Julia Roberts entrega uma performance contida e fria, o que faz sentido dentro do papel, mas isso também distancia o público. Em alguns momentos, a personagem lembra Lydia Tár, de Tár: uma mulher poderosa, cercada de dilemas morais e vulnerável ao próprio ego. A diferença é que Tár encontrava humanidade na rigidez. “Depois da Caçada”, nem tanto.

Ainda assim, é impossível negar o apuro técnico de Guadagnino. A trilha dá uma textura sonora elegante e tensa, e a fotografia é deslumbrante. Os closes nas mãos, os focos trocados entre personagens e o uso do som criam uma sensação de desconforto constante.

O problema é que tudo isso acontece dentro de um filme que se estende demais, com discussões que soam mais expositivas do que provocativas. O que poderia ser uma análise poderosa sobre o “cancelamento” e a ética contemporânea acaba virando um grande discurso e não um drama envolvente.


No fim, “Depois da Caçada’ é um filme que quer dizer muito, mas sente dificuldade em transformar ideia em emoção. Guadagnino continua um cineasta interessante, sim, mas aqui ele parece mais interessado em provar que é profundo do que em nos fazer sentir algo. É bonito, é bem atuado, tem momentos de brilho mas é também frio, distante e, em muitos trechos, cansativo. Fica a sensação de que, entre tantas camadas de discurso, o filme esqueceu de olhar para aquilo que sempre foi a essência do cinema: as pessoas.

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