sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Sonhos

 


Título no Brasil: Sonhos

Título Original: Dreams

Ano: 2025

Direção: Michel Franco

Roteiro: Michel Franco

País: EUA 

Elenco: Jessica Chastain, Isaac Hernández, Rupert Friend

Nota: 3,5/5.0

Por Amanda Gomes

Trazendo à reflexão as muitas faces do um dos sentimentos mais poderos e destrutivos que existe, “Sonhos”, novo filme do mexicano Michel Franco, é daqueles que deixam o espectador desconfortável. É um drama carnal, silencioso e tenso, que fala de amor, poder e desigualdade, mas também sobre o quanto podemos nos perder dentro de um relacionamento.

Jessica Chastain vive Jennifer McCarthy, uma mulher milionária e influente, diretora de uma fundação de arte, que se apaixona por Fernando, um bailarino mexicano vivendo ilegalmente nos Estados Unidos. O que começa como uma paixão avassaladora logo se transforma em algo sufocante, uma relação marcada por desequilíbrios, silêncios e uma tensão crescente que o filme nunca tenta esconder.

A história é construída de forma seca, direta, às vezes cruel. O roteiro contrapõe mundos opostos: o luxo estéril de Jennifer e a sobrevivência precária de Fernando. E faz disso o palco para discutir poder, preconceito e desejo. A câmera observa os dois corpos colidindo e se destruindo, enquanto a narrativa nos lembra que nem sempre o amor é um lugar de refúgio.

Jennifer é o retrato de uma mulher que acredita poder comprar o amor, mas se recusa a pagar o preço de verdade. Ela organiza a vida do amante, paga suas aulas, arranja seu emprego, mas não o assume publicamente. O que parece cuidado, na verdade, é controle. Ela o deseja, desde que isso não custe sua reputação ou seus privilégios.

O filme se move nesse terreno perigoso entre o amor e a posse, entre a entrega e a humilhação. Franco, no entanto, raramente se posiciona. Sua câmera, por vezes, parece cúmplice do desequilíbrio, observando de longe, quase com um prazer incômodo, as agressões que se acumulam até o desfecho. O que começa como um romance proibido termina como um campo de batalha entre duas pessoas que confundem paixão com poder.

Visualmente, “Sonhos” é impecável. Cada plano é pensado para exibir o brilho superficial da riqueza em contraste com a vulnerabilidade dos corpos e emoções dos protagonistas. Tudo é tão bonito que chega a sufocar.

No fundo, “Sonhos” fala sobre as ilusões que construímos quando acreditamos que o amor é capaz de apagar as diferenças: sociais, culturais ou emocionais. Franco nos lembra que não é bem assim. Às vezes, o amor só serve para escancarar o abismo.

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