Título no Brasil: The Mastermind
Título Original: The Mastermind
Ano: 2025
Direção: Kelly Reichardt
Roteiro: Kelly Reichardt
Elenco: Josh O'Connor, Alana Haim, John Magaro
Nota: 3/5
Por Amanda Gomes
Ambientado em 1970, sob o pano de fundo da Guerra do Vietnã e do movimento feminista nos Estados Unidos, o longa acompanha James Blaine Mooney, um carpinteiro desempregado que decide virar ladrão de arte amador e acaba se perdendo entre seus próprios devaneios.
Antes do assalto ao museu, James nunca havia roubado nada. A decisão de levar quatro quadros de Arthur Dove surge mais por impulso do que por necessidade. Ele os escolhe por paixão, pendura um deles na própria parede e parece não se preocupar com o que virá depois. É como se o roubo fosse um ato quase poético e infantil. Afinal, em meio à guerra e às tensões sociais, quem se importaria com a falta de algumas pinturas? Guardas dormem, câmeras ainda não existem, e a América vive distraída. Mas quando alguém pergunta como ele pretende transformar as obras em dinheiro, James simplesmente não sabe responder.
O roteiro não se interessa pelo ritmo acelerado ou pela adrenalina típica do gênero. Em vez disso, desmonta o mito do roubo glamouroso e se dedica ao que vem depois, ao vazio, à culpa, à solidão.
Josh O’Connor, sempre magnético em sua melancolia, dá corpo a um anti-herói letárgico e encantador. O ator entrega aqui um James tão doce quanto perdido, um homem que acredita poder ser mais do que é e que paga caro por isso. Seu olhar distante e os gestos contidos criam um protagonista que rouba não por ganância, mas por tédio, por acreditar, ainda que por um segundo, ser capaz de algo grandioso.
Enquanto isso, Reichardt retira toda a tensão inerente à pergunta “será que vai dar certo?”. O roubo, em si, é quase um detalhe. A câmera prefere observar o que o cinema hollywoodiano cortaria fora: os comparsas patéticos vestindo meias-calças na cabeça, o embaraço da fuga, o esconderijo improvisado num chiqueiro. Tudo é lento, trivial e, justamente por isso, profundamente humano.
A fotografia é deslumbrante em sua simplicidade. Tons pastéis, luz leitosa e dias eternamente nublados criam a sensação de um tempo suspenso, de uma década que agoniza junto com o sonho americano.
Distante do protagonista, o público o observa sem se fundir a ele. Reichardt não nos oferece as motivações de James nem suas certezas; apenas o acompanha enquanto ele vagueia entre rostos conhecidos e memórias desbotadas. Quando ele encontra mães com seus bebês ou quadros pendurados em paredes de hotéis, talvez pense na esposa e nos filhos. Mas a diretora nunca confirma. A redenção, se existe, é sussurrada.
A cena mais comovente vem em uma cozinha, quando James procura Maude, uma amiga do passado. O diálogo alterna entre afeto e rejeição, em uma dança de empatia e exaustão que sintetiza o olhar de Reichardt sobre o humano: falho, solitário, mas ainda digno de carinho.
“The Mastermind” é um filme sobre um roubo em que o roubo não importa. É sobre o erro como essência da vida, sobre a ingenuidade de quem acredita ter controle sobre o próprio destino. Kelly Reichardt transforma o fracasso em poesia e encontra, no rosto confuso de Josh O’Connor, a beleza do homem que tenta e falha em ser mais do que é.

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