terça-feira, 17 de setembro de 2019

Menina que via Filmes: Midsommar - O Mal não espera a noite [Crítica]



Título Original: Midsommar
Título no Brasil:  Midsommar – O mal não espera a noite
País: EUA
Ano: 2019
Gênero: terror
Roteiro e Direção: Ari Aster
Distribuidora no Brasil: Paris Filmes
Elenco: Florence Pugh, Jack Reynor, William Jackson Harper, Vilhelm Blomgren, Will Poulter
#199
por Larissa Rumiantzeff

O que você diria se recebesse um convite para passar uma o verão em uma comunidade em um país estrangeiro, cuja língua você não fala e cujos costumes você não conhece?
Normalmente, eu embarcaria feliz. A não ser que a comunidade em questão parecesse saída da novela “A viagem”. De fato, esse filme é uma viagem, e não da variedade escrita por Ivani Ribeiro. Está mais pra ácido mesmo. Uma comunidade regada a substâncias psicotrópicas. 
É o que o filme de terror Midsommar, o mal não espera a noite, propõe. Uma experiência sensorial. 

Com Midsommar, o roteirista e diretor Ari Aster retoma o tema do luto, usado em “Hereditário”, com a história de Dani e Christian, um casal de namorados cujo relacionamento está desgastado. Dani é emocionalmente frágil e tem uma relação complicada com a família. Christian está visivelmente cansado da bagagem emocional e deixa claro para os amigos o desejo de romper o relacionamento, porém não sabe como fazer isso. Tudo muda quando um trauma repentino leva Dani a uma depressão profunda. 
Prestes a embarcar em uma viagem acadêmica para a Suécia com os amigos, Christian acaba convidando a namorada a contragosto, para evitar uma briga. O destino é o lar de Pelle, amigo do Christian que foi criado em uma comunidade alternativa. A oportunidade é única, um festival de verão que acontece apenas a cada noventa anos. Para Dani, a temporada no vilarejo ensolarado, longe da chuva, é tudo de que ela precisa para se recuperar. No entanto, eles logo descobrirão que a comunidade tem suas próprias regras e tradições. Desde que os visitantes estejam dispostos a segui-las, serão recebidos de braços abertos nessa comunidade onde a empatia chega a outro nível. 
Isso é tudo o que eu posso revelar sobre o enredo, pois em filmes de terror a surpresa e a expectativa são essenciais. E embora o filme peque em alguns momentos, beirando a pretensão, isso não quer dizer que seja um filme ruim. Significa apenas que a minha impressão foi de um excesso de artifícios. 
Em geral, em filmes do gênero, vemos uma iluminação condizente, uma trilha sonora para antecipar os sustos, mas nada disso acontece aqui. Não espere sustinhos. 
Em vez disso, Ari Aster constrói o suspense pela ausência. Em momentos de viagem psicotrópica, o espectador vê a viagem. Até aí, normal. Quando um protagonista não ouve algo, não há trilha sonora. Não vemos a ação acontecer, apenas o resultado.  Já falei sobre filmes com efeitos assim aqui. Tecnicamente, maravilhosos. Já visualizo os prêmios. 
De fato, se dividirmos o filme em dois, a primeira parte é muito boa. Midsommar prende o espectador desde a primeira cena. Ao sermos transferidos para o olhar dos protagonistas, estamos também na posição de estrangeiros, contrastando e confrontando nossos costumes e valores com os dessa comunidade e não entendemos o que está sendo falado em Sueco. Isso já cria um estranhamento, mas o estranho para mim pode ser normal para os demais. Quando bem usado, o desconforto é um artifício tão eficiente que nem precisa de sangue para criar o suspense. 
E eles fazem isso em um cenário incrível. 
O desenvolvimento de Dani mostra que o seu luto a predispõe a aceitar melhor a comunidade e procurar o sentido de pertencimento mesmo em meio ao estrangeiro. Isso foi um dos pontos mais fortes da história. 

A fotografia também é bem feita, contando a história muitas vezes sem precisar de palavras. Vemos a proximidade ou a alienação de um personagem do grupo, por meio das cores e do posicionamento. No último ato, vemos dois personagens que antes se sentavam juntos, em posições contrastantes, um fazendo parte da mesa, o outro claramente fora do quadro, um estranho ali. 
Porém, o espectador não é burro. Basta um olhar mais atento para sentir que o diretor pesa a mão nos efeitos. Pior do que isso, tive a sensação de estar em um simulador, sem entender o sentido por trás de virar a câmera de cabeça para baixo até durante um curto trajeto de carro. Uma manobra ousada, sem dúvida. 
O roteiro e a criação dos personagens também derrapam na segunda parte, e o enredo se torna possível em parte através da burrice de alguns, em parte por meio do choque e do absurdo. Na verdade, depois de um tempo ocultam um desfecho altamente previsível e anticlimático. 
O elenco não era desconhecido do público, e fez um bom trabalho. William Jackson Harper, da série “The Good Place”, interpreta um dos amigos de Christian. Will Poulter interpreta o outro amigo, Mark. Pelle, é interpretado pelo ator sueco Vilhelm Blomgren. O último membro do quarteto, Christian, é interpretado pelo premiado ator irlandês Jack Reynor. 
Mas foi Florence Pugh que deu um espetáculo como Dani. Já estou ansiosa para conferir o seu trabalho como Amy March no remake de “Adoráveis mulheres”. 
No geral, Midsommar não é o meu estilo de filme preferido dentro do gênero, mas foi um filme bom, uma boa pedida para quem já aprecia o estilo do diretor. O filme também é indicado para quem não curte terror clássico. 
Não senti que perdi o meu tempo, afinal a história propõe debates interessantes e um começo envolvente. 
Talvez minha frustração venha justamente desse fato: um desperdício de potencial, perdido numa confusão de intenções. Era de se esperar que, em um filme com tanto investimento em efeitos, teriam se dedicado mais a inovar nos detalhes da história.  


Confira  a crítica em vídeo de Raffa Fustagno





4 comentários:

  1. Fiquei olhando a crítica acima e pensando nas cores. Tipo tive que ler o título duas vezes para ver que era terror mesmo...cores.
    A gente se acostuma a ver terror sempre em tons negros, cinzas.. que quando vi as cores já achei diferente.
    Se puder,quero sim, conferir!!!
    Beijo

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  2. Eu me interessei um pouco mais pelo filme exatamente por ser um filme de terror, mas não daqueles que você vai ter que dormir com a luz acesa. kkkkk
    Não conheço o trabalho do diretor, mas esse excesso de efeitos, até onde não há necessidade, deve irritar um pouquinho. Vou assistir e conferir.

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  3. Larissa!
    Faz tempo que não assisto um filme de terror com aquele suspense bem eletrizante.
    Não sei se fiquei interessada em assistir ou não, vou pensar...
    Valeu sua avaliação.
    cheirinhos
    Rudy

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  4. Eu não sou muito de terror, mas esse até que me chamou a atenção, mas q pena que se perderam no meio do filme...

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