quinta-feira, 22 de maio de 2025

Ritas

 


Título Original: Ritas

Ano: 2025 

País: Brasil

Direção: Oswaldo Santana, Karen Harley

Roteiro: Oswaldo Santana, Karen Harley 

Nota: 5/5

Por Amanda Gomes

Confesso que eu não cresci ouvindo Rita Lee. Sabia quem ela era, claro. O nome, os cabelos vermelhos icônicos, algumas músicas que inevitavelmente atravessam gerações. Mas foi só depois da sua partida que me dei conta de quanta história, coragem e irreverência estavam por trás daquela figura. E é exatamente essa sensação — de descoberta tardia e encantamento genuíno — que “Ritas” provoca em quem assiste.

O longa-metragem não tenta explicar Rita Lee de forma linear ou cronológica. E, sinceramente, ainda bem. Ao invés de buscar a objetividade de um registro tradicional, “Ritas” se entrega a uma construção mais sensível e pessoal, quase como se estivéssemos folheando um diário visual deixado pela própria cantora.

Toda a narrativa é guiada pela própria voz da Rita, seja em uma longa entrevista inédita gravada antes da pandemia, seja em vídeos caseiros feitos por ela mesma durante o isolamento. E, mesmo que isso signifique que só ouvimos o lado dela em episódios polêmicos, como sua saída dos Mutantes, o resultado é extremamente autêntico. Não há interferência externa, julgamentos ou tentativas de “corrigir” sua versão. O documentário entende que o que importa ali não é a polêmica, mas sim a construção de quem Rita foi — ou melhor, de quem as Ritas foram.

O título no plural faz todo sentido. Rita Lee era muitas. Era roqueira debochada, mãe amorosa, esposa apaixonada, feminista avant la lettre, amiga de ícones como Hebe, Elis e Bethânia, e uma mulher que não teve medo de ser livre — mesmo que isso custasse caro. E o filme traduz essa multiplicidade com esquetes da TV Leezão, recortes de fotos, registros de shows históricos e trechos emocionantes de seu convívio familiar.

Um dos momentos mais bonitos, para mim, foi vê-la mostrando os cantinhos da casa, os bichinhos de estimação e até o altar com ícones improváveis. Há uma intimidade ali que emociona, mas que nunca escorrega para o sensacionalismo. E esse cuidado é essencial. Especialmente quando comparamos ao tom mais invasivo de “Mania de Você”, outro documentário sobre a artista que, embora também emocionante, parece ultrapassar certos limites.

Apesar do carinho evidente da equipe criativa com a artista, “Ritas” poderia ter explorado mais a tal entrevista inédita, que aparece menos do que o trailer faz parecer. Com pouco mais de 1h20 de duração, o filme deixa aquele gosto de “quero mais” — não por faltar conteúdo, mas porque a presença de Rita é tão magnética que é difícil se despedir.

Ainda assim, o documentário funciona como uma grande carta de amor. A pesquisa é impecável, o roteiro é bem costurado e há um equilíbrio entre a Rita pública e a Rita íntima que cativa tanto fãs antigos quanto quem, como eu, chegou tarde nessa história. Ele não é um filme sobre uma cantora. É sobre uma mulher inteira — com raiva, humor, dor, amor, acidez e brilho próprio.

E por isso, talvez, tenha sido tão marcante sair da sessão sentindo que conheci alguém que eu deveria ter conhecido melhor antes. Que bom que ainda há tempo para isso.

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