Título Original: O Último Azul
Ano: 2025
Direção: Gabriel Mascaro
Roteiro: Gabriel Mascaro, Tibério Azul
Elenco: Denise Weinberg, Rodrigo Santoro, Miriam Socarrás
Nota: 4/5
Por Amanda Gomes
E se o governo decidisse que, ao completar 70 anos, você teria que arrumar as malas e se mudar para uma colônia só de idosos? Essa é a premissa de “O Último Azul”, novo filme de Gabriel Mascaro. Parece ficção científica, mas ao longo do filme fica difícil não pensar: será que essa distopia não já existe, de outro jeito, aqui e agora?
A protagonista é Tereza, vivida pela incrível Denise Weinberg, uma mulher de 77 anos que se recusa a aceitar o destino burocrático que lhe foi imposto. Em vez de se conformar, ela decide correr atrás de um último desejo e embarca numa jornada inesperada pela Amazônia. O que começa como um gesto de resistência vira uma espécie de conto mágico, em que realidade e fantasia se misturam para falar sobre liberdade, etarismo e, principalmente, sobre a beleza de viver até o fim com dignidade.
O ritmo do filme é lento, contemplativo, mas isso não é defeito — é escolha. Mascaro cria um cinema que não tem pressa, que aposta no silêncio, no gesto, no olhar. É como se a própria câmera respirasse junto com Tereza, nos convidando a desacelerar também. As cores azuladas e esverdeadas, a fotografia delicada e a trilha sonora pulsante dão ao longa um ar poético, quase de realismo mágico, em que cada cena parece suspensa no tempo.
Denise Weinberg segura o filme de uma forma absurda, ela é a alma de “O Último Azul”. Com o corpo frágil, mas uma presença gigante, transmite tudo: a revolta, a doçura, a teimosia e o desejo de viver. Rodrigo Santoro aparece pouco, mas sua participação funciona como um daqueles encontros breves que mudam um caminho inteiro. Já Miriam Socarrás reforça a força dos vínculos femininos, mostrando como o apoio entre mulheres pode ser transformador, mesmo na velhice.
No fundo, o filme fala sobre algo simples, mas urgente: envelhecer não é o fim, é só mais um jeito de viver. E, mesmo que a sociedade insista em descartar quem já não “produz” o suficiente, Mascaro lembra que ainda existe beleza, desejo e liberdade em cada idade.
Saí da sessão com a sensação de que “O Último Azul” é um filme que nos pede para olhar diferente para quem já atravessou tanto da vida. Não é um drama triste, nem um conto de fadas açucarado. É poesia visual com força política. É um lembrete de que resistir, sonhar e buscar novos caminhos nunca tem prazo de validade.
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