Título Original: Uma Mulher Sem Filtro
País: Brasil
Direção: Arthur Fontes
Roteiro: Tati Bernardi
Elenco: Fabiula Nascimento, Camila Queiroz, Samuel de Assis
Nota: 3/5
Existem filmes que parecem nascer de uma urgência coletiva. “Uma Mulher Sem Filtro”, estrelado por Fabiula Nascimento, é um desses. Ele parte de uma premissa simples, mas reconhecível por muitas mulheres: o acúmulo de pequenas e grandes frustrações que, cedo ou tarde, cobram um preço. Bia, nossa protagonista, é uma jornalista sobrecarregada, com um marido preguiçoso, um enteado que não colabora, um chefe machista e amigas pouco atentas. Tudo isso temperado por uma vizinha barulhenta, internet que não funciona e até cachorros que insistem em latir. O mundo parece conspirar contra ela, até que a Deusa Xana entra em cena e, numa metáfora clara, retira os “filtros sociais” que a impediam de dizer o que realmente pensa.
A proposta é empoderadora e até libertadora: quem nunca sonhou em falar tudo sem medo de consequências? O roteiro de Tati Bernardi toca em pontos importantes, como o machismo cotidiano, a ausência de lideranças femininas e a expectativa de que a mulher seja sempre conciliadora. Ao perder o filtro, Bia também perde a obrigação de agradar, e essa transformação é um dos aspectos mais interessantes do longa. É prazeroso vê-la reagir, responder, se impor — e, no processo, nos fazer refletir sobre como muitas vezes silenciamos por conveniência ou costume.
Mas a execução nem sempre acompanha a força da ideia. O humor, que poderia ser uma ferramenta refinada para criticar o cotidiano, muitas vezes cai no exagero e na caricatura. Gritos, caretas e repetições acabam substituindo a sutileza, como se aumentar o volume da piada fosse suficiente para torná-la mais engraçada. Além disso, algumas soluções narrativas soam fáceis: Bia explode contra alguém e, magicamente, é recompensada. Como se bastasse “falar tudo o que pensa” para o mundo finalmente se alinhar. Quem já enfrentou machismo sabe que não é assim que as coisas acontecem e essa ingenuidade enfraquece a proposta feminista que o filme deseja sustentar.
Ainda assim, Fabiula Nascimento é o coração da obra. Ela consegue equilibrar a exaustão de uma mulher comum com a graça necessária para manter a comédia de pé. Sua entrega torna possível acreditar nessa catarse, mesmo quando o roteiro força a barra. O resultado é um filme que pode não revolucionar o gênero, mas oferece momentos de identificação genuína, principalmente para mulheres que já sentiram o peso de serem sempre compreensivas, discretas ou “boazinhas”.
“Uma Mulher Sem Filtro” é, no fim, uma comédia de exageros que oscila entre a crítica social e o escapismo. Nem sempre acerta na forma, mas abre espaço para conversas necessárias: sobre cansaço, limites e a coragem de se libertar de papéis impostos. Não é um manual feminista, mas pode servir como espelho, lembrando que às vezes é preciso, sim, perder o filtro para se reencontrar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião é muito importante para mim! Me diga o que achou dessa postagem e se quiser que eu visite seu blog, informe o abaixo de sua assinatura ;)