Título no Brasil: Rosário
Ano: 2025
Direção: Felipe Vargas (XI)
Roteiro: Alan Trezza
Elenco: Emeraude Toubia, José Zúñiga, David Dastmalchian
Nota: 2/5
Por Amanda Gomes
À primeira vista, “Rosario” parece um sopro de novidade no cinema de terror. Afinal, não é todo dia que vemos uma protagonista latina, filha de imigrantes, ocupando um posto de poder em Wall Street e enfrentando homens brancos arrogantes sem baixar a cabeça. Interpretada por Emeraude Toubia, Rosario poderia ser um ícone de representatividade, uma jovem bem-sucedida que carrega consigo a força de quem venceu barreiras sociais e culturais.
Mas a promessa se desfaz rápido. O roteiro logo revela que o sucesso da personagem não vem de esforço, muito menos da herança de luta de sua família. Tudo estaria ligado a um pacto sombrio, feito por sua avó, com entidades ligadas ao Palo Mayombe. Ou seja: a ascensão de uma mulher mexicana só é possível pela via do “mal”. A crítica aqui não é apenas contra a previsibilidade do roteiro, mas contra a escolha de usar uma religião de matriz africana e afro-caribenha como atalho exótico para o terror, reduzindo sua riqueza cultural a um punhado de clichês demonizados.
É nesse ponto que o filme tropeça feio. Em vez de oferecer ao público latino uma oportunidade de se enxergar nas telas, o longa de Felipe Vargas parece feito sob medida para espectadores brancos, reforçando velhos estigmas: imigrantes vistos como atrasados, sujos, envoltos em práticas “bárbaras”. O apartamento da avó morta, por exemplo, é retratado como um cortiço grotesco, escuro e cheio de larvas, mesmo antes do falecimento. Esse tipo de estética não cria apenas medo, mas também reforça uma visão preconceituosa do “outro”.
Como terror, “Rosario” aposta em sustos fáceis, barulhos repentinos e clichês visuais (vultos passando ao fundo, planos inclinados para parecer mais assustador). O excesso de situações absurdas, nevasca repentina, cães assassinos, vizinhos abusivos acaba tornando a história quase cômica. Em paralelo, a protagonista passa boa parte do filme sozinha, obrigada a verbalizar pensamentos para que a plateia entenda o que está acontecendo. Isso gera diálogos artificiais e quebra o suspense.
Emeraude Toubia segura bem a tela, mas o material a limita. Sua Rosario pouco expressa a dor do luto, a culpa ou a contradição de se afastar de suas raízes. David Dastmalchian, ator que poderia enriquecer a trama, é desperdiçado num papel secundário de alívio cômico envolvendo… uma AirFryer. O que salva parcialmente a experiência são alguns efeitos práticos bem-feitos e a fotografia claustrofóbica, que até criam bons momentos de desconforto.
No fim, o que poderia ser um terror ousado sobre identidade, imigração e pertencimento acaba resvalando para uma narrativa conservadora: Rosario não tem espaço real de sucesso no mundo corporativo americano; sua “redenção” está em se afastar e se recolher à própria comunidade. É como se o filme dissesse: “Que ela fique entre os seus”. Uma mensagem perigosa em tempos de xenofobia em alta.
“Rosario” tinha tudo para marcar território como um terror latino de impacto, mas se contenta em reciclar preconceitos e sustos previsíveis. Sai do cinema quem esperava empoderamento e encontra um retrato distorcido, que mais assusta pela forma como trata suas próprias origens do que pelos monstros que coloca em cena.
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