quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Menina que via Filmes: Escândalo [Crítica]


Título Original: Bombshell
Título no Brasil: Escândalo 
Lançamento: 16 de janeiro de 2020 ( 1h 54min )
Direção: Jay Roach
Elenco: Charlize Theron, Nicole Kidman, Margot Robbie, John Lithgow
Nacionalidade: EUA
Gênero: Biografia, Drama
#08



por Cecilia Mouta 


Não é de hoje que Hollywood tem se ocupado das narrativas-denúncias. Mas de um certo tempo pra cá, um novo tipo de mote tem chamado a atenção dos produtores, diretores e roteiristas: as denúncias de abuso sexual vivido por mulheres em inúmeros âmbitos da sociedade. E por mais que a empresa cinematográfica Hollywood não seja uma empresa que se ocupa dessa narrativa pelo seu bom coração, ainda sim presta um papel importante na denúncia desses casos. 
Inicialmente, com uma direção e edição bem metalinguística com os programas jornalísticos norte-americanos, O Escândalo logo nos primeiros dez minutos de filme nos situa em toda a estrutura  do canal Fox, com direito a Charlize Theron olhando e falando diretamente para a câmera. Um momento Woody Allen dos telejornais. Assim que somos situados na estrutura e hierarquia de um dos maiores canais dos EUA, passamos a acompanhar mais de perto a vida de três mulheres: Megyn Kelly (Charlize Theron), Gretchen Carlson (Nicole Kidman), Kayla Pospisil (Margot Robbie). Três mulheres com vidas diferentes e com postos bem diferentes dentro da Fox, mas com uma coisa em comum: as três sofreram abuso sexual de Roger Alies (John Lithgow). Como se não bastasse, tudo isso é ambientado na polêmica corrida presidencial de Donald Trump, que em certos momentos do filme, acalora os conflitos por sua proximidade com o CEO do canal e seus comentários machistas e sexistas.

Quando Gretchen é demitida, ela decide processar um dos gigantes da empresa, Roger, por abuso sexual. E na caminhada do processo, ela espera que outras mulheres tenham a coragem de vir a frente e denunciar também. 
Ao longo da narrativa o filme vai mudando um pouco de ritmo, a edição, antes rápida, cenas curtas, diálogos breves, vai dando lugar a cenas maiores, diálogos mais extensos. Mas o filme falha, um pouco, ao parar por aí. Das três personagens, a única que ganhou um pouco mais de profundidade é a personagem de Margot Robbie, Kayla. Tanto Gretchen quanto Megyn ficaram na superfície, rasas. Nicole Kidman parece não ter tido oportunidade de mostrar outros lados da personagem, pois esta aparece pouco no filme. Já Charlize Theron teve alguns momentos para isso. Não sei se foi questão de direção ou roteiro, mas essas oportunidades não conseguiram ser aproveitadas. 
E falando em não aproveitar, e aqui retomo meu questionamento do primeiro parágrafo, o filme inteiro manteve-se em uma narrativa leve/divertida. Eu concordo que nem todo filme que fala de coisas sérias precisa ter um alto teor dramático e muitas vezes uma abordagem mais cômica da situação foi muito bem empregada ao longo da narrativa, principalmente as de Kate McKinnon, que interpreta Jess Carr. Sua personagem é uma das melhores da história. Mas esse é o problema de colocar na mão de interesses comerciais narrativas desse tipo. Faltou drama, faltou um pouco mais de seriedade nos momentos difíceis daquelas mulheres de arriscarem suas carreiras para denunciar um abusador que era seu chefe. O pouco de drama que o filme tentou empregar foi com Gretchen, mas foi um tiro pela culatra. A personagem estava pequena demais para conseguir tal feito. 
Enquanto narrativa cinematográfica, O Escândalo é um ótimo filme. Boa direção, bom roteiro, boas atuações de grande parte do elenco principal. Como algo além, tem suas falhas. Foi comercial demais. Mas você pode questionar, “Cecília, isso é só um filme, não tem que ter algo a mais”. Então eu me pergunto e pergunto a vocês, pra que você se ocupa de uma narrativa séria como essa para não ser algo a mais? Qual é o intuito? Vender ingresso porque o tema está na moda? 

Honestamente, eu não sei se eu tivesse sido uma das jornalistas abusadas do caso, se eu gostaria de ver a minha história ser contada de forma tão leve e divertida. Eu gostaria de ter visto um pouco mais da luta interna que essas mulheres passaram pra ter coragem e denunciar. Falando abertamente para vocês, eu não sei se está tudo bem comercializar demais esse tipo de narrativa. Eu fico pensando se fariam um filme do Titanic, por exemplo, desse jeito. Quando envolve morte ou massacre as narrativas possuem o teor de drama que merecem. Quando se trata de abuso, aí o filme é mais divertido, menos sério. Repito, não estou dizendo que o filme tinha que ser todo numa estrutura dramática, mas podia ter algumas! Ao longo de quase 120 minutos, o filme contou com 1 boa cena de drama protagonizada por Margot Robbie. Enquanto possui três mulheres no pôster de divulgação. Não sei se estou problematizando demais ou se tenho alguma razão no questionamento que faço. Fica pra gente a reflexão.  



Crítica 2
por Gabriela Leão


O Escândalo, poucos anos após o acontecimento narrados, traz a história do grupo de mulheres que acusou o então chefe da Fox News, Roger Ailes, de assédio sexual, e ser o responsável pelo ambiente tóxico da emissora. 
Enquanto Nicole Kidman e Charlize Theron representam mulheres reais, as âncoras da emissora Gretchen Carlson e Megyn Kelly, respectivamente, Margot Robbie traz o papel de Kayla Popisil, uma personagem fictícia criada para representar as jovens que estavam em posição mais vulnerável na empresa, na época, sob o comando de Roger Ailes. 
O longa faz um excelente trabalho em apresentar o que era o ambiente da Fox News, aos poucos nos mostrando os limites das atitudes de Roger Ailes, acompanhando a trajetória do que é sofrido por Kayla. Em contrapartida, faz um excelente trabalho em evitar cenas que sejam por demais gatilho. Sabemos o que está acontecendo, e sentimos junto com as personagens, mas pelo que vemos no rosto de Margot Robbie, ou de Charlize Theron, e não por que o filme nos mostra. 
Foi uma boa escolha, e um tratamento apropriado do assunto, na minha opinião, mantém a severidade dos acontecimentos, sem perturbar em excesso o expectador e transformar o produto em difícil de assistir. Importante lembrar que isso foi possível exatamente pelo bom trabalho das atrizes, que nos disseram muito, sem falar nada. Não é a toa que receberam indicações ao Globo de Ouro, e se espera que estejam no Oscar.
Duas coisas me incomodaram, a primeira em relação à trama, já que seguimos a personagem Kayla desde o início, me faltou uma ênfase em qual teria sido seu papel no desfecho da história. É fácil de compreender o porquê deste problema, já que Kayla Popisil não existe, e tratá-la como uma das grandes responsáveis pelo ocorrido não parece a melhor opção. Sabemos que o feito de Kayla tem relevância, mas ele se mescla ao de muitas outras figuras não apresentadas no filme e, sendo um produto de pura ficção, certamente suas atitudes teriam um impacto mais direto. No fim das contas, é uma escolha bastante perdoável, para não colocar uma personagem inventada tomando a força do que muitas mulheres reais tiveram a coragem de fazer. 
A segunda questão é bem menor, mas bem menos aceitável (vou dar um pequeno spoiler aqui, mas como o filme traz fatos que aconteceram pouco tempo atrás, é menos mal). Em parte da trama, se dá ênfase em como o ambiente da Fox News praticamente impõe um certo tipo de vestimenta em suas mulheres, e, ao que parece, não só das apresentadoras e âncoras. É esperado que usem vestidos, que mostrem as pernas, com salto alto para acompanhar. Mas, desde o início, a personagem de Kate McKinnon usa calças. O que seria ok, já que ela demonstra não concordar nem um pouco com o ambiente em que trabalha, ou os ideais da Fox. Porém, quando se tem uma única personagem lésbica no filme, e só ela usa calças... Em um ambiente em que todas as outras se sentem obrigadas a usas saias... Não sei, me incomodou, me pareceu se utilizar de um estereótipo errôneo sem motivo nenhum para tal, apenas para caracterizar a personagem como lésbica. De resto, não tenho o que reclamar. 
Achei uma boa abordagem de um tema sensível, uma trama envolvente baseada em uma história real. Temos a força do movimento contra o abuso, e a sensação da vitória obtida por essas mulheres, mas sem fantasiar em excesso ou transparecer que a questão do assédio em locais de trabalho, principalmente na indústria audiovisual, tenha sido resolvida. Um filme importante de assistir, se não conhecemos ou não a história.

Confira a crítica de Raffa Fustagno em vídeo

2 comentários:

  1. Sei lá, penso eu que se também estivesse envolvida num escândalo tão grande e dessa maneira, iria querer ver é meu grito por justiça ali e não uma forma leve e até descontraída de ver isso na tela.
    Isso tudo anda tão "em moda" no mundo da arte, que a gente aqui do outro lado fica é assustada com tudo isso.
    Se verei? Sim!!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor

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  2. O tema tão importante e não muito bem desenvolvido, uma pena... Eu não gosto muito de ver filmes com temas de abuso, acho muito forte, mas sei a importância de que retratem história assim

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